quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Proclamação do Cristo do Corcovado


O Cristo do Corcovado, símbolo do Rio, celebrou ontem 80 anos de sua construção - ocasião para o teólogo Leonardo Boff elaborar o seguinte texto:

Naqueles dias, ao se completarem 80 anos de existência, o Cristo do Corcovado estremeceu e se reanimou. O que era cimento e pedra se fez carne e sangue. Estendendo os braços, como quem quer abraçar o mundo, abriu a boca, falou e disse:

“Bem-aventurados sois todos vós, pobres, famintos, doentes e caídos em tantos caminhos sem um bom samaritano para vos socorrer. O Pai que é também Mãe de bondade vos tem em seu coração e vos promete que sereis os primeiros herdeiros do Reino de justiça e de paz.

Ai de vós, donos do poder, que há quinhentos anos sugais o sangue dos trabalhadores, reduzindo-os a combustível barato para vossas máquinas de produzir riqueza iníqua. Não serei eu a vos julgar, mas as vitimas que fizestes atrás das quais eu mesmo me escondia e sofria.

Bem-aventurados sois vós, indígenas de tantas etnias, habitantes primeiros destas terras ridentes, vivendo na inocência da vida em comunhão com a natureza. Fostes quase exterminados. Mas agora estais ressuscitando com vossas religiões e culturas dando testemunho da presença do Espírito Criador que nunca vos abandonou.

Ai daqueles que vos subjugaram, vos mataram pela espada e pela cruz, negaram-vos a humanidade, satanizaram vossos cultos, roubaram-vos as terras e ridicularizaram a sabedoria de vossos pagés.

Bem-aventurados e mais uma vez bem-aventurados sois vós, meus irmãos e irmãs negros,violentamente trazidos de Africa para serem vendidos com peças no mercado, feitos carvão para ser consumido nos engenhos, sempre acossados e morrendo antes do tempo.

Ai daqueles que vos desumanizaram. A justiça clama aos céus até o dia do juízo final. Maldita a senzala, maldito o pelourinho, maldita a chibata, maldito o grilhão, maldito o navio-negreiro. Bendito o quilombo, advento de um mundo de libertos e de uma fraternidade sem distinções.

Bem-aventurados os que lutam por terra no campo e na cidade, terra para morar e para trabalhar e tirar do chão o alimento para si, para os outros e para as fomes do mundo inteiro.

Maldito o latifúndio improdutivo que expulsa posseiros e que assassina quem ocupa para ter onde morar, trabalhar e ganhar o pão para seus filhos e filhas. Em verdade vos digo: chegará o dia em que sereis espoliados. E a pouca terra da campa será pesada sobre vossas sepulturas.

Bem-aventuradas sois vós, mulheres do povo, que resististes contra a opressão milenar, que conquistastes espaços de participação e de liberdade e que estais lutando por uma sociedade que não se define pelo gênero, sociedade na qual homens e mulheres, juntos, diferentes, recíprocos e iguais inaugurareis uma aliança perene de partilha, de amor e de corresponsabilidade.

Benditos sois vós, milhões de menores carentes e largados nas ruas, vitimas de uma sociedade de exclusão e que perdeu a ternura pela vida inocente. Meu Pai, como uma grande Mãe, enxugará vossas lágrimas, vos apertará contra o seu peito porque sois seus filhos e filhas mais queridos.

Felizes os pastores que servem, humildemente, o povo no meio do povo, com o povo e para o povo. Ai daqueles que trajem vestes vistosas, se envaidecem nas televisões, usam símbolos sagrados de poder, exaltam o Pai Nosso e esquecem o Pão Nosso. Quantos não usam o cajado contra as ovelhas ao invés de contra os lobos. Não os reconheço e não testemunharei em favor deles quando aparecerem diante do meu Pai.

Bem-aventuradas as comunidades eclesiais de base, os movimentos sociais por terra, por teto, por educação, por saúde e por segurança. Felizes deles que, sem precisar falar de mim, assumem a mesma causa pela qual vivi, fui perseguido e executado na cruz. Mas ressurgi para continuar a insurreição contra um mundo que dá mais valor aos bens materiais que à vida, que privilegia a acumulação privada à participação solidária e que prefere dar os alimentos aos cães que aos famintos.

Bem-aventurados os que sonham com um mundo novo possível e necessário no qual todos possam caber, a natureza incluída. Felizes são aqueles que amam a Mãe Terra como sua própria mãe, respeitam seus ritmos, dão-lhe paz para que possa refazer seus nutrientes e continuar a produzir tudo o que precisamos para viver.

Bem-aventurados os que não desistem,mas resistem e insistem que o mundo pode ser diferente e será, mundo onde a poesia anda junto com o trabalho, a musica se junta às máquinas e todos se reconhecerão como irmãos e irmãs, habitando a única Casa Comum que temos, este belo e irradiante pequeno planeta Terra.

Em verdade, em verdade vos digo: felizes sois vós porque sois todos filhos e filhas da alegria pois estais na palma da mão de Deus. Amém”.

Reproduzido do site do autor

4 comentários:

Anônimo disse...

Retirei do site em ingles The reluctant sinner

era uma frase q tinha o nome do Papa

mas meu ingles não é tão bom...alguém pode traduzir por favor ???

ficaria muito grato


the instructions of Cardinal Ratzinger (now Pope Benedict XVI), who as Prefect of the Congregation for the Doctrine of the Faith wrote in a 1986 letter on homosexuality that: -
“ All support should be withdrawn from any [Catholic homosexual] organizations which seek to undermine the teaching of the Church, which are ambiguous about it, or which neglect it entirely. Such support, or even the semblance of such support, can be gravely misinterpreted. Special attention should be given to the practice of scheduling religious services and to the use of Church buildings by these groups, including the facilities of Catholic schools and colleges. To some, such permission to use Church property may seem only just and charitable; but in reality it is contradictory to the purpose for which these institutions were founded, it is misleading and often scandalous. ” ( emphasis mine )


LOUVADO SEJA DEUS

Equipe Diversidade Católica disse...

Querido Anônimo, obrigado por sua contribuição! Acrescentamos que, nesta mesma carta, o Cardeal Joseph Ratzinger disse também:

“São dignas de admiração a particular solicitude e a boa vontade demonstrada por muitos sacerdotes e religiosos, no atendimento pastoral às pessoas homossexuais; esta Congregação [da Doutrina da Fé] espera que tal solicitude e boa vontade não diminuam”.

(Cardeal Joseph Ratzinger, no documento Carta aos bispos da Igreja Católica sobre o atendimento pastoral de pessoas homossexuais (Roma, 1986, número13).)

Enfim... acreditamos que, mais importante do que pegar citações isoladas desta ou daquela pessoa ou autoridade, o importante é nos pautarmos antes de mais nada pela mensagem de amor do Cristo que sempre acolheu a todos, reconhecendo a condição de pecadores que é inerente a toda a humanidade e estendendo a todos a Boa Nova do amor irrestrito e incondicional do Pai por cada um dos filhos que criou.

Um grande abraço!

Anônimo disse...

Se não for fé, seria o próprio Deus que vive dentro de mim? Tenho um anjo que me diz: "por que esperar tanto das pessoas que estão tão atreladas às suas posições sociais (sejam ateus, religiosos, ou sacerdotes)?". Devo seguir feliz por ser homossexual, venham discursos a favor ou não.

Equipe Diversidade Católica disse...

Sim, querido irmão, acreditamos que devemos procurar fazer o melhor que podemos com todos os dons que nos foram dados pelo Pai, sejamos nós gays ou héteros, homens ou mulheres, cristãos ou ateus. Acreditamos que por Ele fomos criados e por Ele vivemos a cada instante. A vida é dom, tudo é dádiva, e cabe a cada um fazer o melhor que puder para contribuir para a construção de um mundo melhor. Um grande abraço! :-)

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