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Reproduzimos aqui a lúcida reflexão do sempre ótimo Tony sobre este momento que atravessamos - aquele momento crítico que se nota em toda luta por direitos civis (como se viu antes com as mulheres e os negros, por exemplo), em que o aumento da visibilidade, o mostrar a cara para demandar direitos, o fomento ao debate e a lenta conquista de espaço provocam uma violenta reação, tanto mais violenta quanto mais clara é a inevitabilidade do resultado. Esperemos, de olhos abertos, línguas despertas e mãos ativas. Porque a esperança pode, sim, ser uma atitude crítica, como bem colocou Frei Betto em artigo que recentemente reproduzimos aqui.
Outro dia me ocorreu uma coisa. É super-válido reagirmos aos ataques de Bolsonazis, Malafaias e similares; não podemos deixar barato a mais leve ofensa. Mas é preciso termos um pouco de perspectiva histórica e percebermos que, a médio e longo prazo, os homofóbicos já perderam. Eles podem impedir a aprovação de uma lei agora, ou retardar a distribuição de um kit pró-igualdade mais adiante. Mas, mais cedo ou mais tarde, o casamento gay será uma realidade legal. Lutar contra ele é enxugar gelo. Senão, vejamos: muitos países avançados já oficializam a união entre casais do mesmo sexo. O próximo será a Grã-Bretanha, onde a união civil já é uma realidade há anos: em breve eles terão casamento com todas as letras, todos os direitos, todos os deveres. Nos Estados Unidos, a questão será resolvida estado por estado, como aconteceu há pouco na enorme Nova York e em breve na ainda maior Califórnia. Ali na Argentina, gays já se casam há mais de um ano, e adivinha? O tecido social não se desfez e a presidente Cristina Kirchner será reeleita com facilidade em outubro. Não bastasse o cerco geográfico, há o demográfico também. Os contrários ao casamento igualitário se concentram nas camadas mais velhas da população. Ou seja, morrerão em pouco tempo. Não há renovação na base: os jovens são, cada vez mais, totalmente favoráveis - e, surpreendentemente, até entre os evangélicos. Além do mais, gays em cargos importantes são cada vez mais visíveis, na iniciativa privada e até nos governos. Apesar de tudo, o Cheque Bolsonazi provavelmente será reeleito, assim como toda sua ninhada. Mas isto não quer dizer que eles venceram. Uma sociedade democrática dá voz para todos, até para os mais reacionários, e eles agora estão com mais notoriedade do que nunca. Mas deixa que digam, que pensem, que falem, deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que há: são todos perdedores, assim como eram os que defendiam a escravidão no final do século 19. A história irá jogá-los no lixo, e é assim que eles devem ser tratados. Como lixo.
- Tony Goes
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