Foto: windoodles
Publicamos aqui a mensagem final do XXXI Congresso de Teologia da Associação João XXIII, realizado em Madri, na Espanha, e que concluiu dez dias atrás, em 11-09-2011.
A mensagem foi publicada no sítio Religión Digital, 11-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto, aqui reproduzida via IHU, com grifos nossos.
Eis o texto.
De 8 a 11 de setembro, celebramos o XXXI Congresso de Teologia, com a participação de 700 pessoas de diversos continentes e múltiplas identidades culturais, religiosas e étnicas, para refletir sobre o fenômeno dos fundamentalismos, suas principais manifestações, causas e consequências nos diversos cenários geoculturais: Ásia, África, América Latina e Europa.
1. Os fundamentalismos são a manifestação mais eloquente da incapacidade dos seres humanos para viver em harmonia em meio à diversidade e convertem as discrepâncias em barreiras de incomunicação. Alimentam a intolerância, são inimigos da diversidade e podem se manifestar em qualquer ideologia.
2. O fenômeno fundamentalista, cada vez mais generalizado, se apropria de todas as parcelas da existência humana: pessoal e social, religiosa e cultural, política e econômica. Isso pode ser comprovado no avanço dos partidos xenófobos e islamófobos, no fanatismo de líderes religiosos que queimam livros sagrados e nos atentados terroristas cometidos em nome de Deus. Coincidindo com o 10º aniversário do 11 de setembro, queremos ter uma recordação especial pelos atentados desse dias nos Estados Unidos, sem esquecer os do 11 de março em Madri, do 7 de julho em Londres, do 21 de julho em Oslo, e outros, assim como as invasões violentas de países e as agressões contra sua população civil por parte das potências imperiais.
3. Prestamos uma atenção especial aos fundamentalismos religiosos, cujas características mais importantes são: a absolutização da tradição; a busca de um fundamento inamovível em um mundo em mudança; a pretensa compreensão literalista dos textos sagrados fora do marco cultural e histórico em que foram escritos; o esquecimento da inevitável crítica; a pretensão de verdade absoluta em um mundo caracterizado pela complexidade e pela incerteza; a dependência de uma autoridade indiscutível frente à insegurança crescente; a defesa de uma moral imutável em uma sociedade em permanente transformação; a fé em um Deus conhecido, que legitima suas próprias convicções e opções; a sacralização do profano; a dogmatização do opinável; e a recusa ao diálogo.
4. Na Igreja Católica, o fundamentalismo costuma se canalizar através dos movimentos neoconservadores, empenhados em levar a cabo a restauração eclesiástica ao extremo, e de não poucas atuações intolerantes da hierarquia, que minimizam e inclusive negam aspectos fundamentais do Concílio Vaticano II e condenam o trabalho dos teólogos, teólogas e movimentos renovadores.
5. Pudemos comprovar algumas dessas atitudes na recente Jornada Mundial da Juventude, que ofereceu uma imagem autoritária e patriarcal da Igreja, alheia aos problemas reais dos jovens, e fomentou a exaltação do pontífice, até cair na papolatria, uma das mais nítidas expressões do fundamentalismo. E tudo isso com o apoio e a legitimação das diversas instituições municipais, autonômicas, militares e empresariais.
6. Objeto de rigorosa análise crítica por parte das teólogas feministas das diversas tradições religiosas foi o fundamentalismo patriarcal, que fomenta a desigualdade, mantém os papéis de gênero e se traduz no controle absoluto da ordem social pelos homens, que impõem a submissão das mulheres, recorrem à violência e chegam ao extremo do feminicídio.
7. Os fundamentalismos se estendem pelos diversos setores sociais e instalados nas cúpulas da maioria das religiões, da política, da economia e inclusive dos Estados, que tomam suas decisões autoritariamente, sem a consulta da sociedade e sem fomentar a democracia participativa. Nós mesmos, por muito longe que creiamos estar de atitudes fundamentalistas, não estamos livres de nelas incorrer. Por isso, é necessário estar vigilantes e ter uma atitude sempre autocrítica.
8. Cremos que o melhor antídoto contra os fundamentalismo são: a renúncia à possessão absoluta da verdade e sua busca coletiva, o respeito ao pluralismo, a convivência frente à coexistência, o direito à diferença, a interculturalidade e o diálogo inter-religioso orientados ao trabalho pela paz e pela justiça, a solidariedade com os excluídos, a defesa da natureza e a igualdade entre homens e mulheres. As religiões possuem em suas próprias fontes exemplos luminosos e recursos para superar os fundamentalismos, que são: a dignidade das pessoas, o tecido comunitário, a aceitação dos outros, o perdão, a misericórdia, a opção pelos pobres e marginalizados e a hospitalidade.
Madri, 11 de setembro de 2011. Tweet
Nenhum comentário:
Postar um comentário