Palestra de Karen Armstrong, considerada a melhor TED de 2008
Contudo, um Deus pessoal pode tornar-se uma séria responsabilidade. Pode ser um mero ídolo esculpido à nossa imagem, uma projeção de nossas limitadas necessidades, temores e desejos. Podemos supor que ele ama o que amamos e odeia o que odiamos, endossando nossos preconceitos em vez de nos obrigar a transcendê-los. Quando ele parece não impedir uma catástrofe, ou mesmo desejar uma tragédia, pode dar a impressão de ser insensível e cruel. Uma fácil crença em que um desastre é a vontade de Deus pode nos fazer aceitar coisas fundamentalmente inaceitáveis. O próprio fato de que, como pessoa, Deus tem um gênero sexual é também limitante: significa que a sexualidade de metade da raça humana é sacralizada à custa do feminino, e pode levar a um desequilíbrio neurótico e inadequado nos costumes sexuais humanos. Um Deus pessoal pode ser perigoso, portanto. Em vez de nos puxar para além de nossas limitações, 'ele' pode nos encorajar a permanecer complacentemente nelas; 'ele' pode nos tornar tão cruéis, insensíveis e auto-satisfeitos quanto 'ele' parece ser. Em vez de inspirar a compaixão que deve caracterizar toda religião avançada, 'ele' pode nos estimular a julgar, condenar e excluir. Aparentemente, portanto, a ideia de um Deus pessoal só pode ser uma etapa em nosso desenvolvimento religioso. (…) "
- Karen Armstrong, em seu livro "Uma História de Deus" (Cia. das Letras)
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