quinta-feira, 2 de junho de 2011

Quem nos condenará?


Quem poderá nos condenar? 
- Rm 8, 33-34

Escutando as pessoas – cara a cara – me pergunto com freqüência de onde lhes vem esse sentimento de “SER CONDENADO”, esse medo de culpabilidade que não tem nada a ver com o pecado.

O pecado é uma ruptura consciente com Jesus Cristo, é fazer uso do outro, fazer do outro uma vítima de si mesmo – isto é pecado.

Em cada ser se recapitulam todas as tendências da Humanidade – o melhor e o pior. Porém isto não é pecado. Sem, sem exceção todas as tendências – as mais e as menos, as boas e as más – coexistem em cada ser humano: as aspirações à generosidade ou ao assassinato, o desejo de que alguém desapareça, todas as tendências afetivas, do amor ao ódio, tudo em um só ser.

Impressiona já desde criança até a idade adulta, o descobrir em si a potencialidade das tendências humanas. Em certas pessoas, o descobrir de si mesmo, sem ter ninguém que as escute, que compreenda essa descoberta, a sós consigo mesmo, provoca uma angústia de existir que vai numa autodestruição – inclusive até ao suicídio. Chega-se a se considerar como um monstro, um condenado vivo.

Quem nos condenará?
As normas da sociedade? As Leis Religiosas?

Em todos os tempos, as sociedades engendraram normas e leis de autodefesa, de culpabilidades, com o objetivo de moldar a pessoa – UMA NORMALIDADE LEGAL, por exemplo. Antes de Cristo, o pequeno povo de Israel, ameaçado, queria assegurar a sua sobrevivência; então, cria a lei contra a mulher estéril com uma condenação de “amaldiçoada por Deus”: posto que não procria, não entra nas regras sociais. É menosprezada e vive em constante vergonha.

Para o Evangelho, entretanto, não há uma normalidade ou anormalidade, o que há são pessoas à imagem de Deus. Para o Evangelho há somente uma norma – a vida por excelência em Cristo Ressuscitado.

Se nos estimulamos um ao outro para retomar cada dia a marcha até o Ressuscitado, se chegamos até a dominar nosso corpo em vista a isso, é com o objetivo último de conformarmos à imagem e semelhança de Cristo, e não por imposição de uma lei.

Quem poderá nos condenar, se Cristo Ressuscitou e intercede por Nós?

Ele intercede por nós e não sabemos como orar, mas Ele não nos condena. Ele ora por cada pessoa, não castiga jamais. Ele intercede por nós muito mais do que supomos ou imaginamos. A nós, cabe-nos dispor tudo em vista a essa libertação – deixar Deus rezar em mim. Assim abrimos as portas à contemplação do Reino.

É então, em nossa busca – mesmo aquela cheia de silêncios de Deus – que pressentimos essa realidade essencial: a luta do ser humano encontra sua fonte em outra luta, inscrita nas profundezas de nós mesmos, nesse lugar único, nesse lugar onde ninguém se assemelha a outro.

Quem poderá nos condenar?

Jesus intercede por nós. A toda pessoa que vive o arrependimento sincero no coração, o Ressuscitado oferece perdão e libertação.

E agora, na luta pela Liberdade Humana, o lugar do Cristão é a linha de frente, é um não esconder-se na retaguarda da Humanidade – luta e contemplação. Toda pessoa cristã está chamada a viver a imagem de um guerreiro que não duvida de passar a noite inteira em silêncio, ajoelhado ante o sacrário da vida, consagrada na Ressurreição.

Vigiai e Orai
Quem poderá condenar se Cristo é por nós?

Não resta senão entrar, passo a passo, no túmulo vazio do Senhor e ali se preencher de Amor, mesmo que nosso coração nos condene.

Deus é Maior que nosso coração possa entender, pois DEUS É AMOR.

- Irmão Roger (Taizé)*, 1973
Fonte: Centro Loyola de Fé e Cultura. Grifos nossos.

Texto: Jo 20, 1-10
Para nossa fé, é fundamental um encontro pessoal com Cristo?
O Evangelista responde dizendo que não é necessário uma série de provas. Pretende nos expor como exemplo de fé e disposição em crer, na força divina do Ressuscitado que emanou Daquele vazio do túmulo.

Para Meditar:
Quantos vazios e silêncios de Deus já me fizeram crer, ou ainda necessito de provas?

* * *

QUATRO PASSOS DA ORAÇÃO
I – Leitura atenta para conhecer o texto e o contexto. Ajuda nisso buscar outras fontes tais como as notas ao pé da página, comentários, etc. Para ir descobrindo os aspectos que envolvem o texto, o autor, a sociedade onde e quando foi escrito.

II – Interiorizar meditando e/ou contemplando o que o texto inspirar. O silêncio e a solidão nos ajudam nesse processo de compreensão do que a Palavra de Deus nos propõe.

III – Tempo forte da oração em que dialogamos com Deus sob inspiração do Espírito. Questionamentos, descobertas, súplicas e agradecimentos, razão e emoção, esperanças e silêncios, tudo isso soma-se na oração. É a vida à Luz da Palavra e a Palavra iluminando a Vida.

IV – Oração Final e comprometer-se no amor de Deus a amar melhor em tudo e em todos ao seu redor, elaborando o seu “Diário Espiritual”.

OBS.: É importante manter uma fidelidade a um tempo diário de oração, dispondo-se com generosidade para com o Deus Trinitário.

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*O irmão Roger Schutz, suíço de confissão cristã calvinista, quando era jovem ajudou muitos judeus a escaparem do Sul da França à Suíça. Terminada a guerra ficou vagando como tantos outros, passou uma noite numas ruínas que de manhã, viu que se tratava de uma igreja. Sentiu-se chamado a reconstruí-la e começou o trabalho, logo depois conseguiu a ajuda de outros jovens, cristãos católicos, luteranos, etc. Um dia decidiram viver o Evangelho radicalmente. Hoje passam pelo Mosteiro de Taizé e sua igreja de Nossa Senhora da Reconciliação de 5 a 6 mil jovens cada fim de semana, e entre 50 e 100 mil em Semana Santa. Em sua última visita, João Paulo II, começou a falar dizendo: “venho aqui, como vem o peregrino, a beber da fonte sempre clara do Evangelho”. (Fonte: Amai-vos)

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