quarta-feira, 1 de junho de 2011

O professor: recurso mais importante no combate à homofobia na escola


Lembra que eu disse aqui como fiquei feliz com um trabalho sobre transexualidade no estágio? Pois é, alegria de gay dura pouco. Esta semana o tema da aula eram as políticas de reparação e reconhecimento de grupos minoritários. O professor fez um paralelo entre a lei contra o racismo de 1989 e o Projeto de Lei Complementar 122 que, entre outras discriminações, confere o mesmo status de crime às manifestações homofóbicas de que gozam as racistas.

Disse que gostaria de um debate sobre as semelhanças e diferenças a respeito destas duas formas de discrimanção. Mas o que fez, de fato, ao longo de toda a aula foi defender que o projeto contra a homofobia era contrário à liberdade de expressão. A lei contra o racismo teria consagrado uma postura unânime da sociedade sobre o tema, enquanto a questão da homofobia é bastante controversa. Pra coroar, citou apenas uma parte do texto do projeto de lei e pôs no quadro o manifesto inteiro da Faculdade Presbiteriana Mackenzie, sublinhando a parte em que se afirma que nem toda manifestação contrária aos homossexuais é homofóbica. Citou ainda Bolsonaro e Marcelo Crivella. Ele chegou ao ponto de apelar para a questão do humor, quase dizendo que fazer piada das minorias era algo absolutamente inocente. Lembrei de um professor meu da faculdade que, em sua dissertação de mestrado sobre as travestis, afirma que as piadas e os risinhos vão criando o ambiente que ajuda a apertar o gatilho.

Desde quando a liberdade de expressão é um valor absoluto ao ponto de se permitir a degradação da dignidade humana de outros cidadãos que gozam do direito não só à vida e integridade física, mas também à sua imagem? Dizer que o repúdio ao racismo era já consenso na sociedade brasileira e por isso a lei consagrou uma atitude social já consolidada? Para que a lei então? Eu cresci vendo na televisão piadas sobre negros, pegando elevadores sociais nos quais as empregadas domésticas e porteiros, muitos deles negros, eram impedidos de entrar. Tudo isto foi mudando graças à maior consciência sim, mas muito por causa do instrumento coercitivo que a lei proporcionou a quem era discriminado.

Fiquei com pena dos alunos, alguns visivelmente gays. Mais do que material didático contra a homofobia, é urgente que se invista na sensibilização dos professores em relação à questão.

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