Foto: Jeff Swanson
Enquanto muitos cristãos vêem hoje seus líderes regredir a um sectarismo rígido, aprendem a encontrar em sua antiga sabedoria contemplativa uma expressão mais verdadeira dos ensinamentos de Jesus. Não são os que repetem da boca para fora “Senhor, Senhor”, aqueles que “agradam ao Pai”, mas, os que “cumprem a vontade do Pai”. Muitos hoje só consideram que uma doutrina seja digna de crédito, mesmo que procure expressar o inefável, não apenas se ela reivindicar ser verdadeira, mas se de fato sustentar a crença de que nela há mais do que mero consumismo. Porém, nenhuma crença que hoje seja digna de aprovação poderá ser mantida com certeza, exceto a certeza da fé que se alia à esperança e ao amor.
A certeza do fundamentalista precisa ser sacrificada, e o questionamento radical a todos nós precisa ser permitido. Nossa experiência com a morte da certeza também é morte do desejo - o desejo egoísta de estarmos certos, de estarmos a salvo, de sermos melhores que os outros. Essa morte é a nossa parte na cruz. O renascimento do desejo que se segue é o do desejo transformado, que se projeta de um coração puro na visão de Deus. Desejar a Deus não se parece com nenhum outro desejo que tenhamos conhecido. E, no entanto, “feliz é a pessoa cujo desejo por Deus tenha se tornado como a paixão da amante por seu amado”, disse São João Clímaco. Não se exaure e, não nos leva a explorar terceiros para poder satisfazê-lo. Ele tanto é desejar quanto estar livre do desejo, tal como se havia experimentado anteriormente.
A meditação é purificação do coração e a morte do desejo. Assim como há um nascimento para cada morte, também há a regeneração do desejo como desejo por Deus, que nunca poderá ser um objeto de satisfação do ego. Porém, é claro que é um desejo por nossa própria felicidade: não podemos nunca desejar ser infelizes. Desejar a Deus é desejar nossa felicidade pela obediência à lei do amor. Essa lei determina que o único tipo de desejo que nos fará verdadeira e permanentemente felizes é o desejo pela felicidade de outros.
- Laurence Freeman, OSB
Publicado originalmente no site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil.
Tradução: Roldano Giuntoli. Grifos nossos. Tweet
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