Ilustração: Vivianne Pontes
Os episódios que se sucederam após a Ressurreição de Jesus mostram a Sua presença viva entre nós, ainda que esta presença não seja percebida fisicamente, nem tampouco imediatamente. Muitas vezes, nossos olhos e corações estão fechados à presença de Deus...
Dois discípulos seguiam para a cidade de Emaús. Andavam tristes, inconsoláveis pelo que tinha acontecido. O próprio Jesus se aproxima deles e começa a conversar, perguntando o porquê de tanta tristeza. Os discípulos perguntam-lhe, então, como ele poderia não saber sobre o que tinha acontecido naqueles últimos dias. Jesus vai conversando com eles, chega com eles à cidade, tenciona ir adiante, mas, movidos por algum sentimento, eles o convidam a ficar. E, à mesa do jantar, Jesus abençoa o pão e o partilha – o gesto do Mestre! Ao retornar às pressas para Jerusalém a fim de contar aos outros o que lhes acontecera, eles entendem, então, o estranho ardor que lhes incendiava o coração quando na presença do companheiro de viagem.
Chama a atenção o fato dos discípulos terem perguntado a Jesus como ele não sabia sobre o que havia acontecido. A crucificação de criminosos, embora fosse um ato relativamente comum naquela época, era praticada como pena imposta a ladrões e assassinos e acontecia fora das cidades. Não era uma festa, não era notícia... Jesus havia morrido só, poucos estavam ao seu lado, nem tampouco fora um fato noticioso. Portanto, para um estrangeiro (tal como eles entenderam que seria aquele homem) não seria difícil não ter notícias sobre o acontecimento. Para os discípulos, a perda do Mestre era o centro de seus afetos e atenção naqueles dias. Eles sofriam; outros, não necessariamente estariam tão abalados.
Mas seus corações ardiam ao falar sobre o acontecimento e ao ouvir aquele estranho que tentava explicar-lhes os fatos. Muitas vezes, também agimos assim: nossos problemas são de tal forma o centro do mundo que não percebemos quando está o próprio Jesus a caminhar conosco, não entendemos Suas palavras, não compreendemos Suas atitudes... Mas, lá no fundo, nosso coração arde... Quisera pudéssemos identificar de imediato a causa desse ardor... Precisamos da partilha: do pão, dos sentimentos, da vida. Partilhando, o coração desafoga, os olhos se abrem e podemos entender: o Senhor está Vivo e caminha conosco!
Que a mesa de Emaús nos lembre a presença da Vida no meio de nós, a certeza Daquele que conosco caminha e a lembrança do pão que se parte, como meio de celebração da justiça entre todos.
Texto para sua oração: Lc 24, 13-35
- Gilda Carvalho
Reproduzido via Amai-vos. Grifos nossos. Tweet
Nenhum comentário:
Postar um comentário