Foto: Matthew Cox
Jesus está no recinto do Templo, rodeado de um grupo grande dos altos dirigentes religiosos. Ele nunca os tinha experimentado tão de perto. Por isso, com uma audácia incrível, ele pronuncia uma parábola dirigida diretamente para eles. Sem dúvida, é a mais dura que saiu de sua boca.
Quando Jesus começa a falar-lhes de um homem que plantou uma vinha e a cuidou com solicitude e um amor especial, cria um clima de expectativa. A “vinha” é o povo de Israel. Todo o mundo conhece o canto do profeta Isaias que fala do amor de Deus pelo seu povo com essa imagem tão bonita. Eles são os responsáveis dessa “vinha” tão querida por Deus.
O que nenhuma pessoa imaginava é a forte acusação que vai lhes dizer Jesus: Deus está decepcionado. Os séculos têm passado e eles não têm conseguido recolher do povo tão querido os frutos de justiça, solidariedade e de paz que se aguardava.
Uma ou outra vez Deus havia enviado a seus servidores os profetas, mas os responsáveis da vinha os têm maltratado sem piedade até provocar sua morte. Que mais pode fazer Deus pela sua vinha? Segundo o relato, o senhor da vinha envia seu próprio filho, pensando: “Eles vão respeitar o meu filho”. Mas os vinhadores o matam para ficar com sua herança.
A parábola é clara. Os dirigentes do Templo se encontram exigidos a reconhecer que o senhor há de confiar sua vinha a outros vinhadores mais fiéis. Jesus aplica-lhes rapidamente a parábola: “Eu vos digo que o Reino de Deus será tirado de vocês e será entregue para um povo que produza seus frutos”.
Transbordados por uma crise na qual eles não conseguem responder com pequenas reformas, distraídos pelas discussões que impedem ver o essencial, sem coragem para escutar a chamada de Deus a uma conversão radical ao Evangelho, a parábola obriga-nos fazermos perguntas sérias.
Nós somos esse novo povo que Jesus deseja, dedicado a produzir os frutos do reino ou também nós estamos decepcionando a Deus? Vivemos trabalhando por um mundo mais humano? Como estamos respondendo desde o projeto de Deus as vítimas da crise econômica e aos que morrem de fome e desnutrição na África?
Respeitamos ao Filho de Deus que tem sido enviado ou jogamos de variadas formas “fora da vinha”? Acolhemos a tarefa que Jesus nos tem confiado de humanizar a vida ou vivemos distraídos por outros interesses religiosos mais secundários?
Que estamos fazendo com os homens e mulheres que Deus nos envia, também hoje, para recordarmos seu amor e sua justiça? Já não existem mais entre nós nem os profetas de Deus nem as testemunhas de Jesus? Já não os reconhecemos?
- José Antonio Pagola
Reproduzido via IHU, com grifos do autor.
Leitura do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 21,33-43, que corresponde ao 27º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico (2-10-11). Tweet
Nenhum comentário:
Postar um comentário