terça-feira, 24 de maio de 2011

Sobre as flores - e também seus espinhos


Ilustração: Mark Ryden

Há uns dois dias me vejo numa enrolada daquelas que tombam qualquer Lady Gaga em dia de Emmy: um dos meus irmãos do grupo (aqueles que a gente não pode pensar em negar nada) propôs que eu o ajudasse a estruturar um próximo encontro no qual o tema é a TOLERÂNCIA, um dos nossos valores mais fortes. Ok, questão simples, não é? Pois bem, descobri que, nesse momento, não consigo fazer considerações acerca da tolerância sem parecer uma oficial da SS ou um dos censores do DOPS.

Tantos Bolsonaros, tantos Malafaias, tantos Timóteos (que, aliás, merecerá o próximo parágrafo) depois e eu comecei a ficar um pouco enjoada. Não deles, porque eles, para o bem da humanidade, falam sobre aquilo que acham errado; são capazes de dar as caras a tapa por alguma idéia - que, mesmo eleitoreira - é a opinião deles. O meu enjôo e tristeza tem vindo à tona pela forma como me sinto olhando para esses discursos tão diferentes do meu. A impressão que tenho é que a coisa toda começa a se transformar num jogo de "quem tá certo", quando o meu interesse deveria seguir o "vamos conversar numa boa com ele".

Bom, sobre o Agnaldo Timóteo, no último Superpop da Luciana Gimenez, o que eu sinto em dizer é que todo mundo está careca (desculpem-me os carecas, não é particular) de saber que ele teve, tem ou terá lá seus casos com homens mas isso é uma questão dele com ele mesmo. Ninguém tem o direito de tirar ninguém de armário nenhum em nenhuma circunstância, mesmo que esse nosso pobre amigo tenha ido ao programa fazer o papel ridículo que fez. Acredito, cada vez mais, que a tolerância tenha a ver também com o não reagir violentamente, não espezinhar, mesmo que o outro talvez mereça.

Ando pensando em como nós gays temos reagido aos ataques mais ou menos violentos que recebemos todos os dias. Obviamente não defendo que se tome um tapa e ofereça uma flor em troca, não é isso. Mas acho que a gente pleiteia tanto a aceitação, a legitimidade...Será que a melhor forma de se defender é mesmo devolvendo a violência? Tive vontade de torcer o pescoço, essa semana, de mais um padreco de quinta que escreveu um artigo sobre a condenação suprema ao Supremo por aprovar a igualdade de cidadania aos gays mas, sabe, se eu pretendo me colocar integralmente na sociedade, preciso aprender a não querer fuzilar qualquer um que pense diferente de mim. Bom, na maioria das vezes, fuzilaria mesmo... Mais uma vez agradeço a Deus por ter o Padre Luis, que freia minhas ganas assassinas.

Então, voltando àquela minha problemática sobre a preparação do próximo encontro do nosso grupo, acho que terei que contrariar meu amigo e declinar do convite. Também sou humana e dei um risinho maldoso quando vi o tal jornalista vingar um pouco cada um que sabe que o Timóteo jamais deveria estar naquele programa. Mas acho que fechei um pouco pra balanço, sabe? Não faz muito sentido falar seriamente sobre tolerância com tantas questões particulares ainda correndo soltas, dentro de mim, sobre ela.

Sempre com amor (mesmo sabendo que nem tudo são flores),
Zu.

3 comentários:

teleny disse...

Fiquei imaginando essa palestra (ou conversa) sobre a tolerância. Começaria pela definição do prório termo (indispensável), passaria por vários exemplos dos limites de tolerância (por exemplo, quando a tolerância é sinônimo de omissão ou de cumplicidade com o mal), depois haveria referências bíblico-teológicas e, talvez, um relato de como a Igreja reivindica a tolerância religiosa (e quando, ela própria, permanece intolerante). Finalmente, chegava-se ao balanço da tolerância conquistada e ainda almejada pelo "mundo gay". De acordo com a convenção do encontro, haveria largos espaços para troca de ideias entre todos os participantes. Enfim, um espetáculo. Mas, como Você diz, às vezes é necessário dizer "não" (mas só até a próxima oportunidade).

Abraço!

Will disse...

Oi.
Nesse post você falou sobre um encontro do grupo. Fiquei pensativo... Onde vocês se encontram?
Há alguma postagem no blog sobre esse grupo?

Aproveito pra elogiar o blog. Já o indiquei pra alguns amigos. Gosto muito do tom poético que o permeia.

Um pouco sobre mim: Tive *muitos* problemas pra me aceitar, ainda mais porque passei minha adolescência enfurnado na Igreja, tendo sido uma boa parte dela pedindo a Jesus a minha "cura e libertação..."
Conforme fui me aceitando, fui ficando com muita raiva e aversão à Igreja e meio que acabei transferindo isso à visão que tenho de Deus. Mas devido a acontecimentos recentes estou bem melhor quanto a isso e hoje sei que Deus me ama e ele, mais do que ninguém, me aceita.

Obrigado.
Will

Zu. disse...

Querido Will,

É um enorme prazer receber seu contato. Sinta-se, além de muito bem vindo, também muito aguardado.
Gostaria de entrar em contato com você para esclarecer as dúvidas mas não tenho seu email. Por isso, se for possível, envie um email para a gente pelo contatoblogdc@gmail.com e eu te responderei, ok?

Fico muito feliz em saber que você fez as pazes com Deus. O amor Dele é infinito e gratuito. Vai ser bom ter você por perto. ;)

Espero seu email.
Com amor,
Zu.

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