Foto: Anna Di Prospero, "Self-portrait with my mother"
"A obediência não vem de uma batalha de opiniões ou de uma sobreposição de uma vontade sobre a outra, mas sim de um lugar de profunda humildade e respeito." A opinião é de Clare Condon, SGS, superiora das Irmãs do Bom Samaritano da Austrália, publicada no sítio The Good Oil, 11-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto, reproduzido via IHU com grifos nossos:
Na época do recente casamento do Príncipe William e de Kate Middleton, a mídia comentou que Kate não incluiu a "obediência a William" na sua fórmula de voto, mas, ao contrário, publicamente, afirmou: "Eu me comprometo a amar, honrar, confortar e conservar".
Considerando as mudanças nas relações de gênero que ocorreram nos últimos 50 anos, pode-se facilmente estar de acordo com a sua resposta. Qualquer forma de obediência em um casamento deve ser mútua e expressada por ambas as partes. Mas talvez haja alguma hipótese subjacente na cobertura midiática sobre o casamento de um futuro rei, de um governante do seu país. Em um marco hierárquico, espera-se que todos obedeçam ao rei?
A linguagem é dinâmica. As palavras mudam seu significado ao longo do tempo e dentro de diferentes contextos culturais. A palavra "obediência" recebe uma imagem muito ruim na nossa atual sociedade democrática e individualista, porque a "obediência" é vista como uma implicação da subserviência, de abrir mão da própria vontade pelo poder e dominação do outro. Ela é vista como um sinal de fraqueza pessoal.
A própria Igreja Católica, com suas estruturas hierárquicas e medievais, também pode distorcer o verdadeiro significado da obediência. Em tal estrutura de poder e dominação, reforçada por uma legitimidade divina, a obediência pode ser vista como simplesmente dizer "sim" ao magisterium ou à autoridade "legal", em uma forma irrefletida e pouco inteligente.
A palavra latina fundamental para "obediência" é oboedire, que corretamente traduzida significa "ouvir ou escutar". Essa tradução implica em uma relação de mutualidade, em que os membros da comunidade ouvem uns ao outros.
Na nossa tradição beneditina, essa palavra está constantemente diante de nós. É nas nossas relações humanas que nos aproximamos de Deus, e é nesses relacionamentos que chegamos a obediência à Palavra de Deus por nós mesmos e uns pelos outros, dentro e para essa comunidade.
A palavra "obediência", na tradição espiritual da Igreja Cristã, pede uma resposta profunda e informada de uma consciência bem formada pela comunidade e pela partilha da Palavra de Deus em um espírito de escuta.
Na obediência, sempre haverá uma tensão, porque nós discernimos as preferências de Deus nas situações reais e desafiadoras em que nos encontramos. A obediência não vem de uma batalha de opiniões ou de uma sobreposição de uma vontade sobre a outra, mas sim de um lugar de profunda humildade e respeito.
Por isso, eu acredito que seja válido ressuscitar o verdadeiro significado da palavra "obediência" em nossas experiências diárias de vida em comunidade, quer seja em um casamento, em uma amizade, em uma comunidade religiosa, em uma igreja ou em uma nação. Se pudéssemos ouvir mais atenciosamente uns aos outros dentro de nossas diversas comunidades, as decisões que fossem tomadas ofereceriam um maior sentido de retidão e de paz em nossas vidas e em nosso mundo.
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