quarta-feira, 25 de maio de 2011

Apenas Deus


Qual é a diferença entre a realidade e a irrealidade? Acredito que uma maneira pela qual podemos entender isso, é a de enxergar a irrealidade como o produto do desejo. Uma coisa aprendemos com a meditação, a abandonar o desejo, e aprendemos, pois sabemos que estamos convidados a viver integralmente o presente momento. A realidade exige a imobilidade e o silêncio. Esse é o compromisso que assumimos ao meditar. Tal como todos podemos descobrir por experiência própria, na imobilidade e no silêncio, aprendemos a nos aceitar assim como somos. Isso soa muito estranho aos ouvidos modernos, principalmente aos modernos cristãos, que foram educados para praticar muito esforço, ansiosamente: “Eu não deveria ser ambicioso? Que será de mim se eu for uma má pessoa, eu não deveria desejar ser melhor?

A verdadeira tragédia de nossos tempos é que estamos tão cheios de desejos - por felicidade, por sucesso, por prosperidade, por poder, quaisquer que sejam eles - que estamos sempre imaginando como poderíamos ser. Tão raramente acontece de chegarmos a nos conhecer tal como somos e, de aceitarmos nossa posição atual. Mas, a sabedoria tradicional nos diz: saiba quem você é, e que você é como é.

Pode muito bem acontecer de sermos pecadores e, se assim for, é importante que saibamos que o somos. Muito mais importante para nós, porém, é sabermos, por experiência própria, que Deus é a base de nosso ser, e que nele estamos arraigados e fundamentados... Esta é a estabilidade de que todos precisamos, não do esforço e da dinâmica do desejo, mas da estabilidade e da imobilidade do enraizamento espiritual. Cada um de nós está convidado a aprender em nossa meditação, em nossa imobilidade em Deus, que nele temos tudo o que precisamos.

A meditação é o supremo caminho que nos leva à fé, ao comprometimento. Toda ação será superficial, um mero imediatismo, caso não se baseie nesse compromisso com o que seja real, que também deve ser algo que seja eterno. Como cristãos, somos convidados a conhecer agora, com conhecimento pessoal e direto, o que é real e eterno e, conhecendo-o, a vivermos nossas vidas inspirados pelo amor. Esse chamado é subjacente a estas palavras de Jesus: “... aquele que procura a glória de quem me enviou é sincero e nele não há falsidade.” (Jo 7:18). O propósito de nossa meditação é o de que nada haja de falso em nós, apenas a realidade. Apenas amor. Apenas Deus.

- John Main, OSB
O Caminho do Não Conhecimento (Petrópolis, Ed. Vozes, 2009). Grifos nossos.

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