Foto: Herb Ritts
Dom Geoffrey Robinson quer que a Igreja, segundo a frase da época de Pentecostes, "fale uma linguagem inteiramente nova" sobre os atos sexuais, mas entende que deve pronunciar o seu convite em um vocabulário de distinções e regulações legais à moda antiga, que se tornou a língua nativa e às vezes bifurcada da instituição.
A opinião é de Eugene Cullen Kennedy, professor emérito de psicologia da Loyola University, Chicago, nos EUA. O artigo foi publicado no sítio National Catholic Reporter, 20-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto, aqui reproduzido via IHU.
O abençoado bispo da Austrália que fala com tão bom senso sobre a sexualidade humana é um Robinson por nome e por mito. Porque ele é um Robinson Crusoé, construindo um barco com a ajuda de Sexta-Feira, avatar de todos nós, que permitirá que a Igreja zarpe até as profundezas da experiência sexual humana.
O bispo quer que a Igreja, segundo a frase da época de Pentecostes, "fale uma linguagem inteiramente nova" sobre os atos sexuais, mas entende que deve pronunciar o seu convite em um vocabulário de distinções e regulações legais à moda antiga, que se tornou a língua nativa e às vezes bifurcada da instituição.
Ele faz isso graciosamente, fazendo uma proposta radical para se reexaminar e renovar os ensinamentos da Igreja sobre os atos heterossexuais, condição necessária para que ela possa olhar de novo para os atos homossexuais. Ele compreende que os saudáveis Sextas-Feiras, os homens e mulheres comuns do catolicismo, ultrapassaram há muito tempo a Igreja institucional em seus esforços para compreender e integrar a sua sexualidade em suas vidas.
O propósito de Dom [Geoffrey] Robinson é, de fato, aquele definido pelo Papa João XXIII como a sua razão para a convocação do Vaticano II: "Tornar a caminhada humana sobre a Terra menos triste".
De fato, ao urgir uma revisão muito necessária do que e de como a Igreja ensina sobre sexualidade humana, Dom Robinson se baseia sobre temas centrais do Vaticano II. O primeiro deles se encontra no fato de colocar a realidade da pessoa humana, em vez da abstração da lei natural, como o ponto de referência central nos ensinamentos da Igreja e nos pronunciamentos papais sobre matrimônio e atividade sexual.
O segundo se encontra na mudança de uma ênfase em atos objetivos para intenções e disposições subjetivas ao fazer julgamentos sobre a maldade ou a bondade de como as pessoas se comportam. Isso enfatiza justamente o impacto que nossas ações ou omissões têm sobre outras pessoas, em vez da ira que se estagnou dentro de tantos líderes da Igreja que têm se preocupado tanto com o pecado.
O bravo bispo também aponta para o trabalho acadêmico, em grande parte com o pioneirismo, nos EUA, do corajoso padre Charles Curran, para modificar o antigo ensino de que, devido à sua natureza especial, todo ato, pensamento, desejo ou mesmo distração sexual permitidos a iluminar por muito tempo na alma sempre foram um pecado grave e mortal.
As convicções de Robinson sobre a necessidade de uma análise aprofundada do ensino da Igreja sobre a sexualidade são importantes em si mesmas, mas também porque ele encontrou uma forma de falar sobre essa questão essencial a partir de dentro da Igreja, mesmo que de uma forma tradicional e afetada, em que o diálogo se move, embora lentamente, em direção a um círculo mais amplo de prelados.
Ele está buscando, por assim dizer, redimir Eros, isto é, reconhecer a natureza fundamentalmente saudável e criativa de Eros, em vez de rotulá-la, como os Padres da Igreja primitiva fizeram em sua incompreensão do mito do Jardim do Éden, como a consequência carregada de concupiscência do Pecado Original.
As apostas são altas nesse esforço de entender Eros como um impulso humano basicamente saudável que assume seu caráter moral de energia positiva em todas as atividades que dão vida e melhoram a vida, da arte verdadeira ao amor verdadeiro. O Papa Bento XVI falou sobre Eros de uma forma positiva em sua primeira encíclica sobre o amor.
Os Padres do Vaticano II, convidados a votar sobre uma proposta para condenar uma ampla variedade de "ismos", do comunismo ao erotismo, se recusaram a incluir este último depois que um bispo se levantou para objetar a esse mal-entendido do Eros que, como ele disse, tem "algo de bom".
Geoffrey Robinson é um bispo apenas também, levantando-se sozinho como seus antecessores do Vaticano II fizeram, para se dirigir aos outros bispos amontoados sobre ele ao falar da sua necessidade de compreender e afirmar novamente o que é bom e criativo, ao invés do que é mau e destrutivo, em toda expressão de amor sexual verdadeiramente humana.
Eu aposto que, contra todas as possibilidades, Dom Robinson irá falar e, finalmente, será ouvido pelo que há de saudável em seus irmãos bispos. Tweet
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