sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O mal existe, mas o bem é maior

Foto: Sarah

Um amigo querido do blog compartilhou conosco, em particular, seu desânimo diante de tanta violência, tanto preconceito e tanta exclusão. É verdade, quem acompanha os veículos LGBT cada vez mais é bombardeado por coisas muito feias e trágicas. Por um lado, isso é efeito direto da nossa maior visibilidade - que provoca uma reação violenta - e, ao mesmo tempo, da nossa maior organização - que faz com que denunciemos com mais vigor a violência. E, nesse contexto, é preciso lembrar duas coisas.

Primeiro, como disse nosso amigo Tony Goes recentemente, num post que reproduzimos aqui, "é super-válido reagirmos aos ataques de Bolsonazis, Malafaias e similares; não podemos deixar barato a mais leve ofensa. Mas é preciso termos um pouco de perspectiva histórica e percebermos que, a médio e longo prazo, os homofóbicos já perderam".

Segundo, acho (opinião inteiramente pessoal) que tem horas que é preciso desligar um pouco. Tem horas que a atrocidade vai tão alem dos limites que, se a gente não fechar os olhos e os ouvidos e se afastar um pouco, a gente surta. Porque é demais, mesmo. E ninguém precisa ser super-homem e ter que dar conta de absorver todas as informações o tempo todo. Senão, acaba acontecendo que a gente fica morando num mundo medonho, violento, hostil, brutal, bárbaro. E o mundo não é só isso. Se a gente esquece que tem também o sol, a praia, os amigos, o amor, o carinho, o prazer, as atrocidades ganham um tamanho muito maior do que já têm. A gente fica impotente diante delas. E não tem nada mais devastador do que a impotência diante do mal.

De vez em quando, é necessário alimentar a nossa fé, a nossa confiança na vida, a nossa certeza de que o mal existe mas o bem é maior. De que a violência acontece e é preciso combatê-la e preveni-la, mas a amizade, o amor, a solidariedade, o afeto, estão aí. Alguns dos maiores presentes que já ganhei vieram em momentos difíceis, sob a forma do apoio, do carinho e da partilha com pessoas que fizeram com que eu me sentisse amada e cuidada quando mais precisava. O amor que nos dão é expressão do amor de Deus por cada um de nós. Mas é preciso que a gente esteja de coração aberto para receber - e receber o amor dado é responsabilidade nossa. Só eu posso fazer isso por mim, mais ninguém.

Isso é mais importante que todo o mal do mundo. A gente não pode se esquecer disso nunca. Senão, se a gente deixa o medo e a dor se instalarem no nosso coração, o mal já ganhou.

Cuidem-se bem, queridos. Respirem um pouco, alimentem seus corações com beleza e amor. Peçam ajuda a quem ama vocês, e se deixem cuidar um pouco. A gente precisa de nutrição pra continuar andando. E, se tem uma coisa de que ninguém precisa agora, é de mártires caídos e almas imoladas.

Beijos e bom fim de semana.

Cris

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