domingo, 31 de julho de 2011

As necessidades do povo


Mateus inicia seu relato contando que Jesus, ao ver o povo que saíra de suas aldeias para segui-lo, por terra, até aquele lugar solitário, "comoveu-se até as entranhas". Não é um detalhe pitoresco do narrador. A compaixão para com aquelas pessoas, entre as quais havia muitas mulheres e crianças, é o que vai inspirar todas as atitudes de Jesus. De fato, ele não aproveita para transmitir-lhes uma mensagem. Nada se diz de seus ensinamentos. Jesus preocupa-se com suas necessidades. O evangelista fala apenas de seus gestos de bondade e intimidade. Tudo o que faz naquele lugar desértico é "curar" os enfermos e "dar de comer" ao povo.

É um momento difícil. Encontram-se em um local despovoado, onde não há comida nem alojamento. É muito tarde, e a noite se aproxima. O diálogo entre os discípulos e Jesus nos vai revelar a atitude do Profeta da compaixão: seus seguidores não podem ignorar os problemas materiais do povo.

Os discípulos dão-lhe uma sugestão repleta de realismo: "Despede a multidão", que partam para as aldeias e comprem o que comer. Jesus reage de forma inesperada. Não quer que partam nessas condições, mas que permaneçam junto dele. Essa pobre gente é a que mais precisa dele. Então, ordena-lhes o impossível: "Deem-lhes o que comer".

De novo, os discípulos chamam-no ao realismo: "Não temos mais que cinco pães e dois peixes". Não é possível alimentar com tão pouco a fome de tantos. Mas Jesus não os pode abandonar. Seus discípulos têm de aprender a ser mais sensíveis aos padecimentos do povo. Por isso, pede-lhes que tragam o pouco que têm.

No fim das contas, é Jesus quem alimenta a todos, e são seus discípulos que dão de comer às pessoas. Nas mãos de Jesus, o pouco se converte em muito. O alimento em quantidade tão pequena e insuficiente adquire, com Jesus, uma fecundidade surpreendente.

Nós, cristãos, não podemos esquecer que a compaixão de Jesus deve estar sempre no centro de sua Igreja, como princípio inspirador de tudo o que fazemos. Afastamo-nos de Jesus sempre que reduzimos a fé a um  falso espiritualismo que nos leva a ignorar os problemas materiais das pessoas.

Em nossas comunidades cristãs, são hoje mais necessários os gestos de solidariedade que as belas palavras. Descubramos também nós que com pouco se pode fazer muito. Jesus pode multiplicar nossos pequenos gestos solidários e conferir-lhes uma grande eficácia. O importante é não ignorarmos ninguém que precise de acolhida e ajuda.

- José Antonio Pagola
Mateus 14,13-21

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