domingo, 26 de junho de 2011

A Graça de Deus com frete grátis


Considero esse nosso mundo um lugar de muitas luzes. Todos os dias ele me presenteia com as mais diversas surpresas. Meus “domingos de Wanderson”, aqueles nos quais tem a missa fantástica na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na Glória, são quase barbada de que boas epifanias acontecerão antes da metade do dia.

Padre Wanderson, apesar de novo, me mostra séculos de ideias cada vez que eu o deixo entrar – ele não invade, ele pede gentilmente atenção. Se você estiver disposto a abrir mão de duas horas no seu sacrossanto final de semana pra colocar sua cristandade pra trabalhar, muito bem. Lá está ele, mais ou menos ao meio-dia (o sino toca sempre no meio da homilia da missa de 11h30), oferecendo um conjunto de bons temas para se pensar, com base no Evangelho. Padre Wanderson não é comum e, por isso mesmo, é inesquecível e precioso pra mim. Ele tem esse “sabor carregado no tempero” da culinária de Minas. O homem fala como se fosse a última homilia; como se no próximo ano litúrgico, esse décimo-terceiro-domingo-do-tempo-comum não fosse mais acontecer. E ele está certíssimo. As palavras doces já não adiantam nada num mundo que demanda ordem e o hoje que temos é perene como a chance desse nosso encontro: amanhã pode ser que ele já não esteja aqui ou eu já não o possa ouvir mais.

A homilia de hoje me trouxe a reflexão sobre a necessidade de cumprir com aquilo para o que fui criada: ser, também eu, ferramenta para o Reino, com o desapego a mim mesma - que a gente sempre pensa ser característica só dos orientais. O “sermão” do Padre Wanderson pra hoje foi muito mais amoroso do que a maioria das vozes doces que já ouvi dentro da Igreja. Esse padre de verdade foi o primeiro a me oferecer a ideia de que toda cruz tem sua compensação e que a vida pode nos trazer males mas, que esses males sejam acompanhados da lembrança do Bem que existe em nossas vidas e que, aí sim está Deus, neste carinho e conforto das compensações; na Luz que há em meio a qualquer escuridão. Se o mundo me machuca, o Senhor está sempre lá para fazer meus curativos com as boas lembranças que carrego e os amigos que tenho. Mas resgatar essas lembranças é responsabilidade minha e só minha e que, até aí, nos é permitido escolher aceitar ou não o Bem que nos é oferecido.

Se um dia uma igreja me chutou porque eu sou gay, hoje uma comunidade me acolhe com amor porque eu sou, de fato, parte de uma Igreja que nunca me abandonou. Nunca estive fora da Igreja porque, nos momentos mais complicados, essa Força esteve comigo das mais variadas formas. Pensando no que meu amado padre disse hoje, só é possível carregar esta cruz porque há algo maior que divide o peso desse fardo que carrego e que todos também experimentam ao longo da vida. Ver-se como acima deste trabalho de carregar o jugo suave e o peso leve é não desapegar-se de si mesmo; é não se colocar digno para viver uma vida de experiências fortes que nos ligarão o tempo todo a Deus. Isso, para mim, tem sido a verdadeira religião. Que cada qual possa abraçar a sua cruz e tornar-se inteiro e digno perante um Deus de Amor.

Pelas pessoas que, imersas em seus apegos, não conseguem sair de si mesmas para verdadeiramente amar e serem amadas, rezemos ao Senhor.

Com amor,
Zu.

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