terça-feira, 28 de junho de 2011

O Vaticano e os casamento gays de Nova York


A história prossegue. A Igreja Católica permanece imóvel. Ciro e Guido, juntos há sete anos, receberam nesta manhã a bênção do pastor Giuseppe Platone no templo valdense de Milão. Não é um casamento, mas é o reconhecimento, por parte da mais antiga confissão protestante italiana, de que a sua união e o seu compromisso de amor merece ser acompanhado pela comunidade religiosa.

A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 26-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto, reproduzida via IHU.

Andrew Cuomo, o governador ítalo-americano do Estado de Nova York, católico declarado, festeja há 48 horas a vitória trazida pela aprovação dos casamentos gays. Sexta-feira à noite, com 33 votos contra 29, o Senado do Estado de Nova York aprovou a lei que autoriza o matrimônio dos casais do mesmo sexo, apesar da oposição extenuante do arcebispo da cidade, Timothy Michael Dolan, que também é presidente da Conferência Episcopal norte-americana.

Devido ao choque, o L'Osservatore Romano, relatando a notícia, escreveu o nome do arcebispo ao contrário: "Donal". Nova York é o sexto Estado norte-americano que reconhece o matrimônio gay e é um campo politicamente importante – não só pelas características da cidade, mas também pela presença de um compacto eleitorado católicos de origens italianas, polonesas e irlandesas.

E a Igreja Católica na Itália continua negando a possibilidade de que se aprove uma lei sobre os casais de fato hetero e homossexuais. É compreensível que, com base na sua tradição, a hierarquia católica entenda o matrimônio como a fundação de uma família, em que homem e mulher dão vida a uma prole.

Incompreensível e inaceitável é que o Vaticano continue pretendendo impor um veto à legislação civil. Do outro lado do Tibre, já se sabe, a doutrina dos "princípios inegociáveis", aprovada no Santo Ofício pelo então cardeal Ratzinger no final de 2002, tornou-se uma Bíblia. Pretender-se-ia impor que governantes e parlamentares nunca façam uso – laicamente e no respeito ao pluralismo social – da legítima autonomia do político, quando se trata de matérias que o magistério vaticano declarou como irrenunciáveis: divórcio, aborto, uniões civis, testamento biológico (e – veja bem – financiamento para as escolas católicas).

Mas a História se vinga quando uma posição se fossiliza. O muro ratzingeriano está desmoronando ano após ano. Justamente nos países catolicíssimos. Em abril de 2007, o Distrito Federal do México descriminalizou o aborto. Em 2009, o mesmo distrito legalizou os matrimônios gays. Em maio de 2010, o presidente de Portugal ratificou uma lei sobre os matrimônios gays, e o mesmo ocorreu dois meses depois na Argentina. Finalmente, no dia 29 de maio passado, em Malta, os cidadãos também introduziram o divórcio por referendo. Embora durante a sua visita em 2010 Bento XVI tenha instado os jovens malteses a se orgulharem porque seu próprio país rejeitava uma norma desse tipo.

É hora que os parlamentares italianos tomem coragem novamente e ponham as mãos sobre uma legislação que dê dignidade civil e garantias para os casais do mesmo sexo. A sociedade italiana está muito mais à frente. Dez anos depois do Gay-Pride do ano 2000, que desencadeou trovões e relâmpagos do Vaticano e revelou alguma covardia cultural também na centro-esquerda, a grande marcha se repetiu este ano em Roma com o apoio público de um prefeito de direita como Gianni Alemanno. É a força das coisas. É a força de uma ideia normal de civilização. Mas, se a classe política continuar em silêncio, então caberá à sociedade civil se mexer. Não se obtém nada de graça.
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