quarta-feira, 21 de maio de 2014

A casa do Pai tem muitas moradas



O Diácono Marcos Lord, Líder Pastoral da Icm Betel Rio, foi notícia neste fim de semana no jornal O Globo, que fez uma matéria (leia aqui) sobre ele e seu alter ego, a drag queen (e também pastora) Luandha Perón. A reportagem ficou entre as mais lidas do site do jornal por pelo menos dois dias, trazendo, para nossa alegria, uma grande visibilidade ao lindo trabalho realizado pelos nossos amigos e parceiros da ICM Betel. (Leia nota de esclarecimento do próprio Marcos sobre o trabalho da Betel, aqui.)

Aproveitando a ocasião, divulgamos aqui um depoimento (público) que recolhemos no Facebook (aqui) e que nos emocionou profundamente. Porque Luandha tem razão: a casa de nosso Pai, onde Ele nos espera de braços e coração abertos, tem muitas moradas, e há lugar para todos - sem exceção nem condições.

NUNCA FUI TÃO PROFUNDAMENTE TOCADO POR JESUS como aconteceu hoje em minha vida.
Tudo começou quando decidi almoçar, no domingo, com os irmãos da Igreja Cristã Metropolitana da Baixada. Não queria participar do culto que antecederia, pois me recusava a participar de qualquer culto evangélico. Por este motivo aguardei que terminassem do lado de fora do local... Ao final, ouvi a música “Geni e o Zepelim” de Chico Buarque de Hollanda, que me fez lembrar o musical “A Ópera do Malandro”, cuja canção fora feita para o Genival que tinha Geni como seu “nome de guerra”. Já neste momento lembrei-me da Susan Kidman, que muitos dos meus amigos conhecem muito bem... Ali soube que o Pastora Luandha Perón ministraria o culto de mais tarde. Achei incrível e queria muito estar neste momento, tirar fotos e postar pra qualquer irmão cristão de outras denominações o que é, de fato, ousadia, só para que estes pudessem comentar negativamente. Mesmo os que não comentam, costumam fazer seus julgamentos (como sempre) dentro de seus corações “puros”.
Cheguei cedo para o culto. Muitos membros sequer haviam chegados. Fiquei ansioso e torcendo para saber da repercussão que causaria após ser publicado na mídia. Fui me controlando até que ela surge para explicar a Palavra de Deus. Parecia que Deus falava comigo através dela. Senti a emoção tomando conta de mim aos poucos. Quando ouvi as seguintes palavras: “EU TE AMO! NA MINHA CASA TEM MUITAS MORADAS. VENHA MORAR COMIGO”, tive de me retirar e desabafar toda a amargura que estava em meu peito, no banheiro. No momento da ceia, já estava tão nervoso que quase derrubei o cálice da mão da pastora. Saí novamente e minha oração se resumiu em mais um choro doído. Ao final do culto, totalmente aquebrantado, decidi participar da singela homenagem feita aos amigos que partiram vítimas da AIDS.

Pensei comigo (o tempo todo reflito e questiono as coisas): “Maior que ser vitima da AIDS é ser vítima do preconceito”. E lembrei-me do amigo Luis Phellipe que partiu este ano... Então respirei fundo e entrei na fila para acender uma vela e ajudar a formar a cruz que se criava no chão. Ao chegar a minha vez, não consegui colocar a vela de pé. E ali, curvado em frente ao altar do Senhor, tive outra crise que não pude evitar. Minhas lágrimas saíram azedas como o vinagre que Jesus foi obrigado a tomar em seu sacrifício. Tirei os óculos e pus no chão, e tremia, num misto de tristeza, vergonha e alívio. Do meu coração parecia sair os pregos cravados por muitos evangélicos e homofóbicos que existem nas Igrejas... Neste momento pude ver as Mãos do Senhor me ajudando através de mãos cujas unhas eram pintadas e tinha um anel enorme em um de seus dedos. Deus estava ali, eu sei. Eu senti. Os cuspes e pedras que haviam me atirado estavam sendo limpos e retirados por uma Drag Queen. Então, sai dali para tentar entender o que estava acontecendo...

Sou como uma samaritana, inconformada por ser tão discriminada por esta sociedade machista, porém que fora acolhida nos braços de Jesus. Sou como o mendigo Lázaro, que retornou da morte por meio Jesus. Sou como a mulher impura, que apenas ao tocar nas vestes de Jesus, foi curada de seu mal. Sou como aquele que está à porta de muitas Igrejas, esperando um convite para entrar e permanecer como é...
Enfim, neste período pascal, Ele ressurgiu em minha vida, e por isso, sinto-me lavado e impulsionado a sair do meu comodismo pra fazer diferença neste mundo, com pessoas tão injustas e preconceituosas. Ele deseja que sejamos Sal que dá gosto à vida daqueles que não veem razão pra viver; quer que sejamos luz para os que vivem à marginalidade desta sociedade; quer também que caminhemos até Ele como somos e estivermos, entretanto sem máscaras. Porque estas, como maquiagem, já são usadas em muitas Igrejas.

Com carinho, para Marcos Lord.
* * *

ATUALIZAÇÃO EM 22/05/14:

Não deixe de ler nosso comentário a respeito da repercussão desta postagem, aqui, e a nota de esclarecimento do próprio Marcos, aqui :-)

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