quinta-feira, 7 de março de 2013
Os gays do nosso velho e novo mundo
Entrevista com Hugo Nogueira - Diversidade Católica
As “outras ovelhas” também pertencem ao rebanho
Kaio Barreto e Viviane Ferreira
Quando se problematiza a relação gay x religião, muitos assuntos são levados em consideração. As pesquisas sobre o assunto nos fazem entender que gays sempre existiram, seja em 1500, seja em 2013. O antropólogo Luiz Mott, afirma no estudo “Igreja e homossexualidade no Brasil: cronologia temática, 1547-2006″, que a homossexualidade já existia no Brasil. Segundo ele, os ministros católicos e protestantes noticiavam a presença do que chamavam de “mau-pecado” em meados do século XVI, em tribos brasileiras.
“Vocês podem olhar para a questão de atitudes diferentes em relação à homossexualidade como uma condição e em relação ao ato sexual entre homens. Ou seja: se a igreja aceita que algumas pessoas são naturalmente homossexuais. E, nesses casos, se aceita essas pessoas quando eles não agem sobre os seus impulsos sexuais. Outra abordagem a ser feita, talvez, pode ser sobre as diferentes formas em que a Igreja vê e responde à homossexualidade em momentos diferentes. Por exemplo, no passado, ela puniria os homossexuais. Agora, talvez apenas tente transformá-los. E há uma grande diferença entre religiões também. Diferentes religiões e no interior de cada uma delas há atitudes diferentes. Vocês poderiam dizer que em alguns países cristãos as pessoas tentaram conciliar relacionamentos gays e valores religiosos, apoiando o casamento homossexual. Mas é impossível resumir isso em um par de frases “, nos indicou o inglês David Gelber, PhD em História pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
David nos fez entender o quão complexo é o contexto histórico gay. Por isso, optamos por dar maior importância às iniciativas de inclusão em relação ao que chamamos aqui de “águas passadas”. O Evangelho de João (13, 35) diz que “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros”. Se o Senhor então, ama a todo o seu rebanho, como não lutar pela inclusão das “outras ovelhas”?
Foi com base nessa pergunta, que localizamos, no Rio de Janeiro, o “Diversidade Católica”, que surgiu através da reunião de um grupo pequeno de pessoas que tinham esse interesse em conciliar a sua religião (católica) com sua homossexualidade. A média de frequência de 10 pessoas por reunião (quinzenal) e os tímidos 370 likes na página do Facebook, não intimidam quem pretende fornecer subsídios teológicos e pastorais que conciliam duas identidades aparentemente antagônicas: ser católico e ser gay. “Sabemos que a proposta do cristianismo é 100% inclusiva – em todos os sentidos possíveis – e jamais excludente. O próprio termo “católico” quer dizer universal. As ações e palavras de Cristo presentes nos evangelhos deixam bem claro que todos são chamados ao amor divino, independente de qualquer condição”, afirma o site do Diversidade Católica.
As palavras de Hugo Nogueira, professor e membro do grupo – que não possui atribuição de cargos e nem hierarquia – nos fizeram perceber que mesmo com a luta de grupos como este, ainda não é tão fácil ser gay não só na igreja católica, mas sim, no circulo social e religioso como um todo. Nem todos os membros do grupo, por exemplo, são assumidos nas paróquias que frequentam. “Nós temos diálogo com paróquias. O grupo tem necessidade de ser ‘um pouco fechado’. Pessoalmente eu gostaria de que ele pudesse ser bem mais aberto, embora acredite que pregar ideias e difundi-las também seja importante”, afirma Hugo. Acreditamos nos ideais do “Diversidade”: a internet abre espaço para discussões antes quase inexistentes no cenário social e, utilizar dela para chamar os gays ao amor de Cristo é tão válido quanto lutar pelos direitos civis homossexuais – assunto que iremos abordar nas próximas reportagens da série.
Leia o nosso primeiro texto, “Os gays do nosso velho e novo mundo”.
Na opinião pessoal de Hugo, igreja são todas as pessoas que comungam a mesma fé, que possuem a mesma religião. Para a Igreja católica, todas as pessoas batizadas são católicas e constituem a Igreja. Para ele, precisamos estabelecer uma diferença entre a sociedade, os teólogos, a hierarquia da Igreja e a Doutrina, quando analisamos essa relação. Na hierarquia ainda há poucos membros com uma visão de aceitação dos homossexuais, mas já há alguns, então houve uma mudança, porque antes não havia ninguém. Na doutrina, o discurso como um todo não apresenta uma mudança radical, houve avanços, mas sempre muito ambíguos.
O Papa Bento XVI renunciou, no dia 11 de fevereiro último, ao cargo de líder da Igreja Católica, ocupado por ele desde abril de 2005, quando sucedeu ao papa João Paulo II. Muitos jornais especulam que o desgaste da Igreja e a incapacidade de acompanhar as mudanças sociais tenham levado a renúncia. “O Cristianismo não é um conjunto de proibições, mas uma opção positiva. E é muito importante que evidenciemos isso novamente, porque essa consciência, hoje, desapareceu quase que completamente”, afirmou o então Papa, em entrevista à uma TV alemã, em 2006. Perguntamos então para Hugo, sobre sua visão acerca do diálogo com a igreja, e se, com a renúncia de Bento, ele acredita numa possível mudança de pensamento dentro da igreja acerca da temática gay. Essa foi a resposta:
“A sociedade que inclui os católicos e os não católicos via os gays de uma forma e hoje em dia vê os gays de outra. Principalmente depois do advento da Internet em 1995, eu acredito que isso provocou uma mudança grande de perspectiva em direção a uma maior tolerância e até mesmo aceitação em alguns casos. Na minha opinião há sim a chance de cair preconceitos no catolicismo. Já caiu o preconceito contra negros e pode também cair o preconceito contra homossexuais. Da mesma forma que aconteceu na sociedade.”
As pessoas interessadas em participar das reuniões do Diversidade Católica devem mandar um e-mail para: contato@diversidadecatolica.com.br. As instruções para quem deseja participar dos encontros são passadas através desse endereço.
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