Foto: Jason Evans
O mistério é o de que, apenas com o aprendizado da humildade, da paciência e da fidelidade, na repetição do mantra, poderemos ter completo acesso a tudo o que existe. Esta é a característica presencial do mistério de Deus, que é, que é agora, que é sempre, que é tudo. As estruturas da linguagem, que são atreladas ao tempo, e as motivações do desejo e da imaginação, que são atreladas ao ego, sempre falham em encontrar a porta de entrada desse mistério. Ao nos conduzir ao momento presente, e para além do ego, o mantra passa pela estreita porta que conduz à cidade de Deus.
Em última análise, só o silêncio faz sentido. O agir e o pensar, que podem se tornar modalidades de operação muito compulsivas, não fazem de mim quem eu sou. Deus sendo Deus, é o que nos faz sermos quem somos. Deus é como Deus é, e Eu sou como Eu sou, o que equivale a dizer que só posso ser em Deus. (...)
Dizer isso tudo, é claro, é uma coisa. Compreender, é outra, e a característica finita e dual de nossas percepções mentais limita enormemente a compreensão. Todavia, a compreensão é como um poste de sinalização, que aponta para essa experiência essencial de sermos quem somos. A vida só poderá nos satisfazer se for vivida a partir dessa essência. Por que iríamos tentar ser qualquer outra coisa, se Deus está satisfeito em ser Deus. Deus é a criatividade do amor que se auto-comunica. A prece é, simplesmente, a completa receptividade a essa energia criativa, no centro mais profundo e mais real de nosso ser, onde nada mais somos, a não ser o que somos. Aqui, além de todo esforço e autoprojeção, de toda culpa ou vergonha, e de todas as operações psicológicas, explodimos na realização de estarmos sendo conhecidos pelo Único que é.
A fidelidade à meditação diária, e ao nosso mantra durante nossos períodos de meditação, é tudo. Sabemos que não devemos pensar acerca de Deus, ou imaginar a Deus, durante esses períodos de máxima importância, simplesmente, porque ele está presente. Ele está ali, não apenas para ser encontrado, mas, para ser amado. Amando, descartamos os pensamentos.
“Pois estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Rm 8, 38-39)
Qual, então, é o motivo de nos deixarmos desencorajar por nossas distrações?
- John Main, OSB
In Word made flesh (Londres: Darton, Longman, 1993), pp. 40-41.
Tradução de Roldano Giuntoli
Reproduzido via Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil, com grifos nossos Tweet
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