quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A casa de Jesus

Imagem fornecida pelo autor

A leitura que a Igreja propõs no último domingo foi o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 13, 33-37, que corresponde ao 1º Domingo do Tempo de Advento, ciclo B do Ano Litúrgico.

O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.


Jesus está em Jerusalém, sentado no monte das Oliveiras, olhando para o Templo e conversando confidencialmente com quatro discípulos: Pedro, Santiago, João e André. Vê-os preocupados por saber quando chegará o final dos tempos. A Ele, pelo contrário, preocupa-O como viverão os Seus seguidores quando já não O tenham entre eles.

Por isso uma vez lhes apresenta a Sua inquietação: “Olhai, vivei despertos”. Depois, deixando de lado a linguagem terrorífica dos visionários apocalípticos, conta-lhes uma pequena parábola que passou quase desapercebida entre os cristãos.

“Um senhor foi de viagem e deixou a sua casa”. Mas, antes de se ausentar, “confiou a cada um dos seus criados a sua tarefa”. Ao despedir-se, só lhes insistiu numa coisa: “Vigiai, pois não sabeis quando virá o dono da casa”. Que, quando venha, não vos encontre adormecidos.

O relato sugere que os seguidores de Jesus formarão uma família. A Igreja será “a casa de Jesus” que substituirá “a casa de Israel”. Nela todos são servidores. Não há senhores. Todos viverão à espera do único Senhor da casa: Jesus Cristo. Não o esquecerão jamais.

Na casa de Jesus ninguém deve permanecer passivo. Ninguém tem de se sentir excluído, sem responsabilidade alguma. Todos são necessários. Todos têm alguma missão confiada por Ele. Todos estão chamados a contribuir para a grande tarefa de viver como Jesus, sempre dedicado a servir o reino de Deus.

Os anos vão passando. Será que se manterá vivo o espírito de Jesus entre os Seus? Continuarão a recordar o seu estilo de Serviço aos mais necessitados e desvalidos? Irão segui-lo pelo caminho aberto por Ele? Sua grande preocupação é que a Sua Igreja é que venha a adormecer. Por isso insiste até três vezes: “Vivei despertos”. Não é uma recomendação aos quatro discípulos que o estão a escutar, mas sim um mandato aos crentes de todos os tempos: “O que vos digo, digo a todos: velai”.

O traço mais generalizado dos cristãos que não abandonaram a Igreja é seguramente a passividade. Durante séculos, temos educado os fiéis para a submissão e obediência. Na casa de Jesus só uma minoria se sente hoje com alguma responsabilidade eclesial.

Chegou o momento de reagir. Não podemos continuar aumentando mais ainda a distância entre “os que mandam” e “os que obedecem”. É pecado promover o desafeto, a mútua exclusão ou a passividade. Jesus queria ver-nos a todos despertos, ativos, colaborando com lucidez e responsabilidade.

- José Antonio Pagola
Reproduzido via IHU, com grifos do autor

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