terça-feira, 26 de julho de 2011
Por que participo da Igreja?
Quanto tu és contestável, Igreja, porém, quanto te amo! Quanto me fizeste sofrer, porém, quanto devo a ti! Gostaria de te ver destruída, porém, tenho necessidade da tua presença. Deste-me tantos escândalos, porém, me fizeste entender a santidade! Nada vi no mundo de mais obscurantista, mais comprometido, mais falso, e nada toquei de mais duro, de mais generoso, de mais belo.
Quantas vezes tive vontade de bater na tua face a porta da minha alma e quantas vezes rezei para poder morrer entre os teus braços seguros.
Não, não posso me livrar de ti, porque eu sou tu, mesmo não sendo completamente tu.
E depois aonde iria? Construir uma outra Igreja?
Mas não poderei construí-la senão com os mesmos defeitos, porque são os meus que trago dentro. E se a construir, será a Minha Igreja, não mais aquela de Cristo.
Anteontem, um amigo escreveu uma carta a um jornal: "Deixo a Igreja porque, com o seu comprometimento com os ricos, ela não é mais confiável". Me dá pena!
Ou é um sentimental que não tem experiência, e o desculpo; ou é um orgulhoso que acredita ser melhor do que os outros.
Nenhum de nós é confiável enquanto estiver sobre esta terra. São Francisco gritava: "Tu acreditas que sou santo e não sabes que ainda posso ter filhos com uma prostituta, se Cristo não me sustentar".
A credibilidade não é dos homens, é só de Deus e do Cristo. Dos homens é a fraqueza e talvez a boa vontade de fazer alguma coisa de bom com a ajuda da graça que brota das veias invisíveis da Igreja visível.
Talvez a Igreja de ontem era melhor do que a de hoje? Talvez a Igreja de Jerusalém era mais confiável do que a de Roma?
(…)
Quando eu era jovem, não entendia por que Jesus, apesar da negação de Pedro, quis que ele fosse chefe, seu sucessor, primeiro Papa. Agora, não me admiro mais e compreendo sempre melhor que ter fundado a Igreja sobre o túmulo de um traidor, de um homem que se assusta por causa da conversa fiada de uma serva, era uma advertência contínua para manter cada um de nós na humildade e na consciência de sua própria fragilidade.
Não, não vou sair desta Igreja fundada sobre uma pedra tão frágil, porque fundaria uma outra sobre uma outra pedra ainda mais frágil, que sou eu.
(…)
Mas depois há ainda uma outra coisa que é talvez mais bela. O Espírito Santo, que é o Amor, é capaz de nos ver santos, imaculados, belos, mesmo se vestidos como canalhas e adúlteros.
O perdão de Deus, quando nos toca, faz com que Zaqueu, o publicano, se torne transparente, e a pecadora Madalena, imaculada.
É como se o mal não pudesse tocar a profundidade metafísica do homem. É como se o Amor impedisse que a alma distante do Amor apodrecesse. "Eu coloquei os teus pecados atrás das minhas costas", diz Deus a qualquer um de nós, e continua: "Amei-te com amor eterno, por isso te reservei a minha bondade. Edificar-te-ei de novo, e tu serás reedificada, virgem Israel" (Ger 31,3-4).
Eis, ele nos chama "virgens" mesmo quando estamos retornando da enésima prostituição no corpo e no espírito e no coração.
Nisso, Deus é verdadeiramente Deus, isto é, o único capaz de fazer as "coisas novas".
Porque não me importa que Ele faça os céus e a terra novos, é mais necessário que ele faça "novos" os nossos corações.
E esse é o trabalho de Cristo.
E esse é o trabalho divino da Igreja.
Vocês gostariam de impedir esse "fazer novos os corações", expulsando alguém da assembleia do povo de Deus?
Ou vocês gostariam, procurando outro lugar mais seguro, de se colocar em perigo de perder o seu Espírito?
- Frei Carlo Carretto
Reproduzido via IHU, com grifos nossos. Tweet
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2 comentários:
"eis q faço nova todas as coisas..." =)
Bem, amigo anônimo... esse talvez seja o verdadeiro sentido da ressurreição, aqui e agora, a cada momento... Abs! :-)
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