terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Por uma Igreja simples de coração e "pobre de espírito"


A propósito do Evangelho do último domingo (4º Domingo do Tempo Comum, Mt 5, 1-12), o teólogo basco Jose Antonio Pagola tece algumas considerações sobre a necessidade de uma Igreja de espírito mais evangélico, que viva, como comunidade, as bem-aventuranças. Artigo publicado originalmente no Eclesalia, e reproduzido via Amai-vos.


Ao formular as bem-aventuranças, Mateus, ao contrário de Lucas, está preocupado em desenhar os traços que caracterizam aos seguidores de Jesus. Daí a importância que têm para nós, nestes tempos em que a Igreja tem que encontrar o seu estilo cristão de estar no meio de uma sociedade secularizada.

Não é possível propor a Boa Nova de Jesus de uma forma qualquer. O Evangelho só se espalha a partir de atitudes evangélicas. As bem-aventuranças nos mostram o espírito que deve inspirar a ação da Igreja, enquanto peregrina para o Pai. Nós temos que ouvi-las em uma atitude de conversão pessoal e comunitária. Só dessa forma temos que caminhar para o futuro.

Bendita a Igreja "pobre de espírito" e de coração simples, que atua sem prepotência nem arrogância, sem riquezas nem esplendor, sustentada pela humilde autoridade de Jesus. Dela é o reino de Deus.

Bendita a Igreja que "chora" com aqueles que choram e sofre ao ser privada de privilégios e poder, pois poderá compartilhar melhor o destino dos vencidos e também o destino de Jesus. Um dia ela será consolada por Deus.

Bendita a Igreja que renuncia a se impor pela força, a coerção ou a submissão, sempre a praticar a mansidão do seu Mestre e Senhor. Um dia ela herdará a terra prometida.

Bendita a Igreja que tem "fome e sede de justiça" dentro de si e no mundo todo, pois procurará a sua própria conversão e trabalhará por uma vida mais justa e digna para todos, a começar pelos últimos. Seu anseio será farto por Deus.

Bendita a Igreja compassiva que renuncia ao rigorismo e prefere a misericórdia antes que os sacrifícios, pois acolherá aos pecadores e não lhes esconderá a Boa Nova de Jesus. Ela alcançará de Deus misericórdia.

Bendita a Igreja de "coração limpo" e conduta transparente, que não encobre os seus pecados nem promove o secreto ou a ambigüidade, pois caminhará na verdade de Jesus. Um dia Ela verá Deus.

Bendita a Igreja que "trabalha pela paz" e luta contra as guerras, que une os corações e semeia a concórdia, pois vai contagiar a paz de Jesus que o mundo não pode dar. Ela será filha de Deus.

Bendita a Igreja que sofre hostilidade e perseguição por causa da justiça, e não evita o martírio, pois saberá chorar com as vítimas e conhecerá a cruz de Jesus. Dela é o reino de Deus.

A sociedade de hoje precisa conhecer comunidades cristãs marcadas por este espírito das bem-aventuranças. Apenas uma Igreja evangélica tem autoridade e credibilidade para mostrar o rosto de Jesus aos homens e mulheres de hoje.
_______________
Eclesalia Informativo autoriza e recomenda a divulgação dos seus artigos, desde que indicada a sua procedência.

2 comentários:

Daniel disse...

"que atua sem prepotência ..." [a Igreja] parece não ter o sentido sentido amplo da palavra [prepotência] quando o assunto é GLBT.

Equipe Diversidade Católica disse...

É verdade, Daniel... A voz da Igreja que mais faz se ouvir, ainda hoje, no caso dos LGBTs, é a da exclusão. Mas há exceções (como esta, por exemplo) que nos dão motivos para ter esperança e acreditar na mudança. E pela mudança trabalhamos. :-)

Um grande abraço! :-)

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...