quinta-feira, 29 de março de 2012

Abre o teu Evangelho e medita

Foto: David Lazar

- Abre o teu Evangelho, olha para ele e toma nota do que te vou dizer.

Deu-me um lápis.

- Procura, primeiramente, no Evangelho de São Mateus, o sexto capítulo, e lê, desde o quinto ao nono versículo (Mt 6,5-8). Aqui está a preparação ou a introdução. Ensina, que não é na vaidade, nem no meio do barulho, mas num lugar isolado e tranquilo que se deve orar; orar para pedir perdão pelos nossos pecados, em união com Deus. Não se deve fazer muitos pedidos sobre as necessidades do dia a dia, como fazem os pagãos.

Depois, lê ainda do nono até ao décimo quarto versículo (Mt 6,9-13), onde encontras a forma da oração, isto é, as palavras que devemos pronunciar. Tudo o que precisamos para a nossa vida está aqui sabiamente reunido. Lê também o décimo quarto e décimo quinto versículos deste capítulo e verás qual a condição que é necessária manter, para que a oração seja efetiva, pois se não perdoarmos aos que nos ofendem, Deus não perdoará os nossos pecados.

No sétimo capítulo, do sétimo ao décimo segundo versículo, encontramos os meios para o sucesso na oração e a aprovação na esperança: pedir, procurar, bater. Esta expressão intensa representa uma parte da oração e o exercício principal, para que a oração não só esteja presente em todas as ações, mas que as supere no tempo. Esta é a principal riqueza da oração... Verás o exemplo no décimo quarto capítulo do Evangelho de São Marcos, do trigésimo segundo versículo ao quadragésimo, onde o próprio Jesus Cristo repete as mesmas palavras na oração. Encontramos um exemplo semelhante no Evangelho de São Lucas (cf. Lc 11,5-13) na parábola do amigo importuno e na parábola do juiz iníquo e da viúva (cf. Lc 18,1-14), apresentando o mandamento de Jesus, que nos manda rezar sempre, a toda a hora e em qualquer lugar; orar e não desanimar, isto é, não se entregar à preguiça.

Além destes sensatos conselhos, o Evangelho de São João mostra-nos ainda um ensinamento fundamental sobre a misteriosa oração interior do coração. Em primeiro lugar, assistimos à conversa de Jesus Cristo com a samaritana, onde é revelado o culto interior a Deus do espírito e da verdade, como Deus deseja, e que representa a verdadeira oração permanente, como uma nascente de água viva a jorrar para a vida eterna 0o 4,5-24).

Mais à frente, no décimo quinto capítulo, do quarto versículo ao oitavo, descreve-se, ainda de forma mais clara, a força, a potência e a necessidade da oração interior, isto é, o refúgio da alma em Cristo, na recordação eterna de Deus.

Depois, lê, no décimo sexto capítulo, do vigésimo terceiro ao vigésimo quinto versículo, no mesmo Evangelho. Que mistério aí se nos apresenta! Vê que a oração em nome de Jesus, ou como é conhecida, a oração de Jesus «Senhor Jesus Cristo, tende piedade de mim!», se repetida frequentemente, tem uma força enorme, e ilumina o nosso coração. Isso nos é dado ver nos Apóstolos, que, sendo discípulos de Jesus Cristo há menos de um ano, aprenderam a rezar ao Senhor, isto é, o «Pai-Nosso».

Sabemos também que, no fim da sua vida terrena, Jesus Cristo lhes desvendou o seu mistério, para que a oração fosse definitivamente um sucesso. Ele disse-lhes: «Nesse dia nada me perguntareis. Em verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, Ele vos dará. Até agora, nada pedistes em meu nome; pedi e recebereis» (Jo 16,23-24). Assim sucedeu. Quando os Apóstolos aprenderam a dizer a oração em nome de Jesus Cristo, então, realizaram-se milagres admiráveis, e eles próprios ficaram maravilhados!

Vês agora a ligação e a plenitude do ensinamento sobre a oração, tão sabiamente exposta no Evangelho? Se, depois, começares a leitura das Epístolas dos Apóstolos, aí encontrarás, consequentemente o ensinamento da oração.

Para continuarmos as observações anteriores, indico-te algumas passagens que revelam os atributos da oração. Nos Atos dos Apóstolos, descreve-se a prática, isto é, o exercício aplicado e permanente na oração dos primeiros cristãos, instruídos na fé em Jesus Cristo (cf. Act 4,31). Indicam-nos os frutos ou os resultados da oração permanente, isto é, a expansão do Espírito Santo e das suas dádivas àqueles que oram.

Verás algo semelhante no décimo sexto capítulo, nos versículos vinte e cinco e vinte e seis. Continua, ordenadamente a leitura das Mensagens dos Apóstolos e verás:

1) como a oração é necessária em todos os atos da vida (Tg 5,13-16);
2) como o Espírito Santo ajuda a rezar (Jd 20-21; Rm 8,26);
3) como devemos rezar com o espírito (Ef 6,18);
4) como é necessário, ao orarmos, sossego ou paz interior (Fl 4,6-7);
5) como é necessário orar sem cessar (1 Ts 5,17);
6) finalmente, notamos que devemos rezar não só por nós, mas por todos (1 Tm 2,1-5).

In Relatos de um peregrino russo, ed. Paulinas

Fonte: Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (Portugal)

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