terça-feira, 22 de novembro de 2011

Os que se afastaram da Igreja: um desafio


Ir ao encontro das pessoas que se afastaram da Igreja é um desafio que as igrejas, em diferentes países, procuram responder. Este foi o tema central abordado pelo novo presidente da Conferência Episcopal dos EUA. O discurso do arcebispo de Nova York é tema do editorial da revista inglesa The Tablet, 19-11-2011. A tradução é de Benno Dischinger.

Eis o editorial, aqui reproduzido via IHU, com grifos nossos.


Jesus Cristo e a Igreja são um todo único. Assim o afirmou o arcebispo Timothy Dolan de Nova York diante de seus colegas bispos: este princípio é, segundo ele, a chave para inverter o declínio da participação à missa dominincal nos Estados Unidos, fato que caracteriza a Igreja Católica naquele país e, - teria podido acrescentar,- também alhures. “Talvez, irmãos, o nosso desafio pastoral mais urgente seja hoje o de reafirmar a verdade, para atualizar o brilho, a credibilidade e a beleza da Igreja 'sempre antiga e sempre nova', e inovarmos sua face que é a de Jesus, assim como Ele é a face de Deus."

O arcebispo Dolan é demasiado cônscio da medida na qual a imagem atual da Igreja não consegue mais corresponder a estes ideais. Uma Igreja que repetidamente faliu na proteção de seus membros mais vulneráveis contra os abusos sexuais da parte dos próprios padres, ou que às vezes parece apresentar-se como um severo mestre vitoriano na ação de admoestar uma classe de maus alunos, ou ainda como um lobby que se apressa em proteger os próprios privilégios, antes do que um organismo a serviço do bem comum, não parece, pois, ser muito semelhante à face de Cristo. Num discurso iluminante, o arcebispo Dolan recordou à Conferência Episcopal dos Estados Unidos, da qual é presidente, que a Igreja não deve ser considerada um “carroção embaraçoso, um clube de pernósticos fora de moda, agravado por um aparato burocrático de cunho medieval, capaz de lançar sobre a humanidade uma série de regras incríveis baseadas em pura fantasia, e mesmo um dos tantos movimentos carregados de litigiosidade e opiniões contrastantes”.

Os bispos da Inglaterra e de Gales lançaram uma iniciativa para procurar ir ao encontro novamente aqueles que abandonaram a prática semanal. Uma lição que emerge dos primeiros encontros, como descrito por Jonathan Tulloch na revista Tablet desta semana, é a necessidade de “vermos a nós mesmos como nos vêem os outros”, de reconhecer que quantos não abandonaram são também eles, por assim dizer, uma parte do problema na mesma medida daqueles que deixaram de ir. É uma reflexão semelhante ao discurso de Dolan.

Para dizê-lo brevemente, quando a gente olha um bispo católico, o representante mais em vista da Igreja local, vê nele Cristo batido até o sangue, ridicularizado, amaldiçoado, profanado, ou o vê como o chefe de “um sistema de organização de atividades que necessitam de uma oportuna renovação", para citar o arcebispo Dolan? Exatamente como a mensagem espiritual, com toda a probabilidade, é insuficiente para contrapor-se às tentações de consumismo e individualismo, que estão entre os principais antagonistas de uma vida de fé. No entanto, Cristo é a melhor oferta que a Igreja pode patrocinar. Ele é a fonte de atração magnética que ainda está em condições de atrair até quantos estão afastados.

Ao solicitar uma hierarquia mais humilde e capaz de admitir suas falhas, o arcebispo contestou precisamente aquele estilo de triunfalismo episcopal presente na cultura católica americana e também alhures. Não tanto por culpa de indivíduos isolados, mas do sistema inteiro. No entanto, isto de fato afasta muitos católicos e, ao mesmo tempo, mostra-lhes que não são procurados. Por exemplo, a Igreja católica americana iniciou uma campanha para defender a liberdade religiosa que, segundo ela, estaria ameaçada em várias frentes. Mas não está claro se a liberdade mais importante a defender seja o direito da Igreja de discriminar os gays católicos, ou o direito da Igreja de fazer, sim, que os seus hospitais continuem a ir ao encontro das necessidades sanitárias dos imigrantes clandestinos.

Os bispos americanos poderiam, então, interrogar-se sobre esta pergunta: que imagem de Igreja é mais semelhante à face de Cristo? Que imagem tem mais probabilidade de atrair novamente quantos se afastaram – ou tem sido afastados – entre desilusão e desespero?

2 comentários:

Cristiano disse...

Já conhecia esse espaço e fico feliz em saber que há propostas como a de voces.

Deus os abencoe!

Equipe Diversidade Católica disse...

Oi, Cristiano! Que bom receber esse seu contato, e saber que vc iniciou seu blog tb. Que tenhamos muitas oportunidades de troca! Fique com Deus, e boa sorte com seu blog! :-)
Paz e bem!

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