Daniel Zamudio, em foto de arquivo
Um jovem homossexual chileno que foi agredido por um grupo de neonazistas em Santiago foi declarado com morte cerebral no último domingo pelos médicos que o atendiam desde o ataque, no início do mês. Os assassinos, já detidos pela polícia chilena, agrediram brutalmente o rapaz durante três horas, tendo lhe arrancado parte de uma orelha, marcado seu corpo com símbolos neonazistas, apedrejado-o e quebrado uma de suas pernas.
[Atualização em 28/03/12: Daniel Zamudio faleceu ontem, às 19:45h, horário do Chile. (Informação do amigo @realfpalhano) Mais um mártir. Até quando?]
O jesuíta Marcos Cárdenas escreveu-lhe uma carta aberta, que recebemos ontem via Twitter dos queridos @realfpalhano e @wrighini e reproduzimos aqui, com tradução nossa.
Estimado Daniel:
Permito-me te escrever estas linhas mesmo não te conhecendo e ainda que possivelmente você não lerá esta carta. Faço-o porque não posso permanecer calado diante do mal perpetrado por esses recalcitrantes, ou, melhor dizendo, canalhas - que, incapazes de reconhecer a grandeza e mistério do ser humano, te massacraram a golpes tão-somente pela sua orientação sexual.
Provavelmente, você vai se perguntar por que um religioso está te escrevendo, sabendo que pertenço a uma instituição que, desde tempos idos, condena moralmente e exclui os homossexuais. Por desgraça, vivemos em uma sociedade homofóbica, que não respeita essa orientação. Te digo que sou contrário às posições desrespeitosas, de censura, inquisidoras, obscurantistas. Minha atitude face a essa tendência é de diálogo. Está claro para mim que alguns setores da Igreja ainda adotam uma posição intolerante, da qual não compartilho: mas esse já é outro tema.
Te escrevo com a intenção de te contar que essa agressão bestial, cruel e desapiedada não passará para a história como mais um ataque apenas, ou como uma noticia a mais das páginas policiais. Te prometo que lutaremos e combateremos para que essa prática nefasta seja extirpada da nossa sociedade. Há instituições que têm sido proféticas na denúncia e condenação de atos desse gênero; a MovilH e a Fundación =Iguales, entre outras. Para mím, essas instituições são presença de Deus, pois as lésbicas, gays, transexuais e bissexuais são filhos e filhas prediletos de Deus, perseguidos, pisoteados e excluídos que têm sido ao longo da história.
Tenho certeza, Daniel, de que Deus te ama profundamente, ama a tua vida, a tua família e a tua condição homossexual. Você é, para nós, causa de orgulho e admiração. Se nós, cristãos, acreditamos em um Deus que é e se manifesta no amor, será que o amor entre pessoas do mesmo sexo, portanto, não seria uma concretização - nada mais, nada menos - do amor de Deus? Creia-me: se a utopia do amor se concretizar, espero que as trincheiras do ódio e da violência desapareçam.
Me despeço com um abraço grande e te incluo em minhas orações.
Até sempre, Daniel.
- Marcos Cárdenas, jesuíta. Estudante de Filosofia na UAH.
Fonte: Sentidos Comunes, com informações do Terra.
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E mais (atualização em 28/03/12):
Excelente artigo, indicado pelo amigo @wrighini: Daniel Zamudio e a violência no Brasil
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