sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Para gays, preconceito torna velhice ainda mais difícil

Foto daqui

O preconceito e a falta de direitos civis, que são problemas para todas as idades, acentuam as consequências do envelhecimento para os homossexuais. Esse é o resultado de uma pesquisa feita pela ONG inglesa Stonewall com gays, lésbicas, bissexuais e heterossexuais maiores de 55 anos no Reino Unido.

O estudo, divulgado em setembro, revela que 34% dos gays e bissexuais homens foram diagnosticados com depressão e 29% com ansiedade, o dobro em relação aos heterossexuais da mesma faixa etária. Nas mulheres, as diferenças entre os dois grupos são menores, mas os percentuais ainda são maiores entre as lésbicas (40% e 33% contra 33% e 26%).

O número de homossexuais idosos que consomem drogas é quatro vezes maior que entre os heterossexuais (9% contra 2%), assim como é maior o consumo de álcool e cigarro.

De acordo com pessoas entrevistadas pela reportagem, a realidade é parecida no Brasil, apesar de não haver dados e pesquisa semelhante para comparar.

"O gay velho é muito mal visto na sociedade, até entre os próprios gays", afirma o funcionário público Mário Tatsumoto, 50.

"Aqui no Brasil, os homossexuais não saem mais de casa quando passam de 30. Na Europa, o que você vê na rua são os gays de 40 a 60 anos", concorda o baiano Antônio Almínio, 55, que mora em São Paulo há mais de 30 anos.


DIFERENÇAS NA SAÚDE

O preconceito em relação à orientação sexual acaba afetando a qualidade do atendimento público de saúde para esse grupo. Em 14% dos casos pesquisados no Reino Unido, os parceiros de homossexuais não puderam opinar sobre tratamentos para seu companheiro e 25% presenciaram algum tipo de discriminação pela orientação sexual.

A pesquisa da ONG Stonewall também aponta que o atendimento em asilos e residências para idosos é feito por profissionais que não são treinados para lidar com gays, lésbicas e bissexuais.

Uma das alternativas para tentar driblar o preconceito é criação de residências exclusivas para homossexuais, que já existem na Europa, nos Estados Unidos e na Argentina.

"A criação desse tipo de casa é vista por muita gente como uma volta ao gueto, mas é uma oportunidade de socialização para os gays de baixa renda", afirma o técnico em informática Regis Cardoso, 52, criador do blog e do site "Grisalhos", que fala sobre saúde e relacionamentos com gays maduros.

O escritor João Silvério Trevisan, 66, que deu auxílio a gays idosos em dificuldades financeiras e com problemas de saúde, critica esse tipo de iniciativa. "Por que, em vez de fazer asilos, a sociedade não pode criar grupos para ajudar esses gays da terceira idade?"

Pesquisador do Núcleo de Identidade de Gênero e Subjetividades da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Fernando Pocahy, 40, diz que é preciso oferecer atendimento aos idosos de forma indiscriminada. Ele sugere a organização de residências coletivas entre grupos de amigos gays.

"É uma alternativa para essas pessoas viverem melhor, construindo vínculos com seus pares, e envelhecerem juntos."

- Diego Zerbato
Publicado originalmente na Folha de S. Paulo. Reproduzido via X1

8 comentários:

Alex disse...

Observo dessa maneira, o fato do gay velho estar em depressão, pode ser sinal que a causa da sua "felicidade", ou seja o sexo, não encontra mais virilidade ou seja lá o que for... Então, na falta de felicidade, vem a depressão.

Por outro lado, a não ser pela possibilidade real que os gays estarem contaminados por HIV, não existe necessidade de treinamento para lidar com eles.

Cris Serra disse...

Alex, me desculpe, mas seu comentário é tão permeado de preconceitos que não sei nem por onde começar.

Como psicóloga especializada no trabalho com idosos, posso te assegurar que a questão da depressão na velhice tem uma grande variedade de causas, independente de o idoso ser ou não gay. No caso dos gays, a depressão, que já tem alta incidência na população idosa em geral, é agravada pelas circunstâncias da segregação, da discriminação e da invisibilidade.

Com relação à sexualidade na velhice, não existe equívoco maior do que supor que o idoso, seja ele hétero ou homossexual, deixa de ter vida sexual ativa. Essa sua premissa é simplesmente equivocada.

Com relação à origem da felicidade dos gays ser o sexo, meu caro, outro equívoco: a pessoa gay não se reduz à dimensão da sua sexualidade, e sua sexualidade, por sua vez, não se reduz à sua expressão genital. Como em todos os seres humanos, o ser humano gay é um conjunto de características que incluem a dimensão sexual, que por sua vez é indissociável da sua afetividade. Isto é: a sexualidade, no ser humano gay, é, como nos seres humanos todos, é parte da forma como a pessoa expressa sua afetividade. E a forma como ela expressa sua afetividade é parte indissociável de quem ela é.

Com relação à sua suposição de que a probabilidade de um gay idoso ser HIV positivo é maior do que na população idosa em geral, te convido a ler os últimos relatórios do Ministério da Saúde sobre a epidemia de Aids no Brasil, para obter alguns dados mais atualizados sobre a realidade recente do HIV por aqui. A esse respeito, você pode encontrar mais informações e links para relatórios do Ministério da Saúde aqui.

O que fere as pessoas, Alex, não é ser gay, nem ser velho. O que causa dor e depressão, meu caro, é o abandono, a segregação, o preconceito e a ignorância.

Cordialmente,

Cristiana Serra
Equipe Diversidade Católica

Rodolfo Viana disse...

Assino embaixo em tudo que você escreveu Cris.


Rodolfo Viana

Cris Serra disse...

PS: Desculpe, ficou faltando um último aspecto: a depressão, Alex, é um quadro psicopatológico severo, com uma gama complexa de fatores etiológicos que nada tem a ver com a mera falta de felicidade. Te convido a se informar mais a respeito do assunto, pois o desconhecimento pode te levar a inadvertidamente ofender, ferir ou desrespeitar pessoas, gays ou não, que já se encontram fragilizadas em função de um grave transtorno psíquico.

Alex disse...

Drª. Cris Serra,

O meu conceito sobre o tema é fundamentado na messagem do movimento ou comunidade LGBT que só se explica dessa forma, na minha pouca experiência, não encontrei os homosexuais celibatários que não praticam os atos homossexuais, isso explica a minha visão geral da questão.

Por outro lado, agradeço o seu esclarecimento, se eu estou errado em alguma afirmação, não estão certos os autores da pesquisa, afinal TODOS os idosos, sem distinção de OPÇÃO sexual sofre de segregação, então não creio no vitimismo apontado.

Bem, com relação à sexualidade na velhice, realmente tem idosos que praticam sexo, como tem os que não praticam, e quanto mais velho ficam mas difícil é.

Desculpe a demora.

Alex disse...

Drª. Cris,

Eu mesmo já tive depressão, minha irmã também, e sei que exitem fatores fora da questão "felicidade" já que essa é subjetiva e facilmente confudida, disso tudo, concluo que não há motivo para tratar os gays velhos de forma diferente dos héteros velhos, são todos velhos e sofrem igualmente.

Cris Serra disse...

Caro Alex,

Creio que, se um estudo científico constata que "34% dos gays e bissexuais homens foram diagnosticados com depressão e 29% com ansiedade, o dobro em relação aos heterossexuais da mesma faixa etária", ele aponta não para uma igualdade, mas para uma peculiaridade dessa população específica, e me parece que é esse o foco da matéria: discutir as causas dessa diferença. Não se trata de vitimização, mas na investigação e debate das causas e busca de soluções.

Quanto à sua percepção da "messagem do movimento LGBT" e sua opinião de que os homossexuais devem ser celibatários, bem, me parece que há uma vasta realidade sobre como as pessoas LGBT vivem de fato, para além dos estereótipos, à qual você não tem acesso. Se você terá interesse e disposição para buscar ampliar seu conhecimento e sua visão dessas realidades, isso já será uma escolha sua, que só você poderá fazer - se quiser. De resto, respeito seu direito às suas opiniões e pontos de vista, mesmo discordando deles.

Cordialmente,

Cristiana

Alex disse...

Drª,

Há um engano na sua leitura, eu não defendo celibato.

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