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Sempre fui meio avessa às ideias tradicionais de família. Nunca compreendi muito bem que se pudesse ser fosse forçado a gostar e conviver com pessoas específicas, simplesmente porque há entre nós e eles uma compatibilidade genética. Para mim, família sempre foi outra coisa, mais ligada ao sentimento do que à biologia.
Tenho uma família (biológica) até que grande. Minha avó materna era a quarta de cinco filhos. Meu avô materno, o terceiro de onze filhos. Meus avós paternos vieram para São Paulo do norte e do nordeste sem suas famílias, das quais nunca soube muita coisa, mas quando se casaram tiveram quatro filhos, o que também contribuiu significativamente para engrossar a minha árvore genealógica.
Mesmo assim, dessa gente toda, aqueles com os quais realmente convivi e criei laços ao longo da vida não são muitos. A maioria, habituei-me a encontrar somente em um ou outro aniversário ou casamento, velório ou enterro. Cumprimentamo-nos cordialmente, trocamos algumas palavras, contamos da vida como anda, mais por convenção do que por verdadeiro interesse, e quando saímos dali, cada um retoma a sua vida. Não há proximidade. Não há intimidade.
Há na minha vida, por outro lado, um bocado de gente sem qualquer laço genético comigo, mas com quem ao longo da vida fui criando laços afetivos fortes, pessoas que se importam comigo e com quem eu me importo, que fazem a diferença na minha vida. Foram afetos cultivados ao longo da infância, da adolescência, da vida adulta. Não viemos ao mundo biologicamente conectados, fazemos parte de grupos genéticos diferentes. Mas eu as escolhi como parte da minha lista de “indispensáveis”, para usar um termo que ouvi outro dia, e de que gostei muito. Estas pessoas sim, eu considero como parte da minha família. Juntamente, é claro, dos parentes (no sentido comum da palavra) com quem, além de laços biológicos, tenho também relações verdadeiras de proximidade, conhecimento mútuo, afeto e bem querer.
Minha família, portanto, é feita de gente bem escolhida. Família, para mim, não é destino nem fatalidade, é caminho. É construção de toda uma vida: é presença, é cuidado, é atenção. É amor desmedido, é olhar carinhoso, preocupado. É amizade. Nesse balaio que eu chamo, com toda sinceridade, de “minha família”, tem quem seja parente de sangue, e que junto comigo construiu uma história de afeto, muito além da biologia. E tem uma porção de gente muito querida, gente amiga que não tem comigo qualquer conexão genética, mas que vive do meu lado de dentro em um lugarzinho muito especial, porque nós nos escolhemos. Assim é com minha madrinha e seus filhos, que cresceram comigo e aprendi a amar como irmãos. Assim é com meu avô “postiço”, padrasto da minha mãe, que foi o avô que a vida me deu e me ensinou a amar. Assim é com amigos escolhidos muito a dedo, alguns deles hoje com suas familinhas, gente muito amada com quem eu sei que posso contar, e para quem estou presente para toda obra. Isso é família, para mim – não conheço outra definição.
Dizem que parente, a gente não escolhe. Pode até ser. Mas família, essa a gente escolhe sim – com o coração.
- Tata, do Blog Mamíferas Tweet
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