Foto: i can read
Por um feliz acaso, encontramos outro dia este texto no blog de um certo Jeremy Johnson e achamos que valia traduzir e compartilhar com vocês.
Não sei como é ser negro e carregar o peso de anos de opressão e racismo sobre os ombros. Ter de conviver com e superar tamanha opressão. Sentir-se diferente e de menor valor simplesmente por causa da cor da minha pele. Eu sou branco.
Não sei como é ser mulher e carregar o peso da desigualdade e do sexismo sobre os ombros. Andar sozinho pela rua sendo fuzilado por todos aqueles olhares carregados de luxúria. Sentir-se diferente e de menor valor simplesmente por causa do meu gênero. Eu sou homem.
E não sei como é ser gay e carregar o peso do ódio, medo e isolamento sobre os ombros. Ter intensos sentimentos amorosos por alguém do meu próprio gênero. Ter de optar entre reprimir aquilo que sou ou “sair do armário”, sabendo muito bem os conflitos que minha decisão vai causar. Sentir-se diferente e de menos valor simplesmente por causa de minha orientação. Eu sou hétero.
Nunca acordei, numa manhã da minha adolescência, sentindo-me culpado, sujo e assustado porque algo despertou dentro de mim e tenho sentimentos pelos garotos, não pelas garotas. Nunca vi o jeito como as pessoas olham ao passar de mãos dadas com outro cara. Nunca precisei me perguntar por que Deus me fez assim, permitiu que eu me sentisse assim, só para dizer que sou amaldiçoado, abominável e pecador. Nunca pensei em me matar, movido por toda a carga de medo, vergonha e culpa que carrego por causa de um segredo obscuro que levo comigo. Nunca tomei na cara nem apanhei até cair simplesmente por ser gay. Nunca senti a opressão de um país inteiro nem de um corpo inteiro de fieis sobre mim. Nunca soube o que é ter de me sentar com meus pais, olhá-los nos olhos e dizer-lhes que sou gay, só para ver toda a atitude deles em relação a mim mudar instantaneamente. Nunca soube a sensação de ver a pessoa que amo ser rejeitada por quem é muito importante para mim. Nunca senti como é estar no lugar do meu irmão.
Não sou instruído o bastante para saber ou declarar coisas como “O que você sente pelo Marcos é um pecado” ou “Você não foi criado assim” ou “Você escolheu assim, isso não é o que você é” ou “Você tem de negar esses sentimentos e não realizá-los” ou “Deus ama você, mas odeia seus atos e sentimentos gays” ou “Você não serve para Deus por ser gay”.
E, como não sei nem nunca soube, e não sou tão instruído assim, não posso tomar meu assento no júri para julgar e condenar vocês.
Mas posso amar.
Posso dizer que amo vocês tal como são, sem desculpas. Posso dizer que vocês já sofreram o bastante e não foram amados o bastante. Posso dizer que Deus ama vocês, de maneira incondicional, e espera ansioso para que vocês acreditem, e assim se tornem livres para viver e amar. Posso dizer que, sim, serei seu amigo e não os temerei.
E posso pedir perdão.
Perdão por tomar parte de sua opressão e abuso. Perdão pelo meu silêncio, permitindo que se consolidasse a atmosfera que os cercou de medo, ódio e isolamento. Perdão por não me postar entre vocês e seus opressores bradando “Basta!”. Perdão por não permitir que sua história venha a ser também a minha história, a sua dor seja a minha dor, a sua opressão seja a minha opressão. Perdão por não ser a voz do amor de Deus em sua vida. Perdão por não levar o abraço de Deus a vocês quando vocês mais precisavam, limitando-me, em vez disso, a olhar de longe enquanto vocês apanhavam. Perdão por permitir que a Bíblia seja usada como uma metralhadora apontada para vocês, em vez de como uma carta de amor escrita por Deus para cada um de vocês.
Acima de tudo, perdão por representar tão mal a Jesus. O Jesus que se sentava à mesa, curava e abraçava aquelas mesmas pessoas que as ordens estabelecidas em termos culturais e religiosos repeliam, condenavam e amaldiçoavam.
Se Jesus estivesse hoje aqui, seria com vocês que Ele se sentaria à mesa, curaria, abraçaria, amaria e ficaria.
Mas esperem, Jesus está aqui hoje. Perdão por não ter sido Jesus para vocês.
Por favor, me perdoem e tenham paciência comigo, enquanto aprendo a amar como Jesus amou. Daqui por diante, estarei com vocês, de mãos dadas, irmão com irmão, irmão com irmã, como um ser humano com outro ser humano. Partilhamos o mesmo sangue. Nosso Pai é o mesmo. Deus ama a mim tanto quanto ama a vocês. E Seu amor incansável cobre vocês como a mim.
Estou com vocês, seja como for.
Seu irmão, com muito amor,
Jeremy Johnson
(PS: Considerem esta a minha “saída do armário”.) Tweet
9 comentários:
Deus ama você, mas odeia seus atos e sentimentos gays
Caro amigo anônimo,
respeitamos sua opinião, mas não compartilhamos dela.
Acreditamos que a salvação se estende a todos, seja quem for, e que, como diz S. João, Deus é puro Amor - e, portanto, incapaz de odiar seus filhos ou os atos destes, pois Ele é todo perdão amoroso e misericórdia perante nossas falhas humanas.
Por outro lado, nossa vivência e testemunho nos levam a ter uma visão diferente da sua também com relação à homossexualidade, amigo. Não encontramos nos Evangelhos nenhuma palavra de Jesus com relação ao homoerotismo nem à homoafetividade - ainda que dados históricos tornem bastante provável que o episódio da cura do "servo" ou "filho" do centurião refira-se, na verdade, à cura do amante do centurião, hábito comum entre os romanos da época. (Isso já foi assunto de um post específico, que você pode ler aqui. De toda forma, sendo assim Jesus em momento nenhum dirigiu ao centurião qualquer palavra de reprovação.)
Ademais, entendemos a sexualidade como uma dimensão inerente ao ser humano e indissociável da expressão de sua afetividade, para muito além da mera genitalidade, do mero ato sexual. Ser "gay" é muito mais do que o simples ato sexual entre duas pessoas do mesmo sexo. É a forma mesma como expressamos nosso amor, a forma como constituímos um casal, a forma como vivemos o afeto no maior grau de intimidade e entrega de que um ser humano é capaz.
Por isso, não podemos acreditar que a nossa orientação sexual seja necessariamente ruim - ou desordenada, como diz o Magistério Católico - em si. Acreditamos que toda sexualidade humana, como aliás todas as dimensões da nossa humanidade, pode ser vivenciada de uma maneira que nos aproxime de Deus ou dEle nos afaste. Quantos casamentos e relações heterossexuais desordenados você conhece? Serão bons e construtivos pelo simples fato de serem entre pessoas de sexos opostos? Enfim... fica para a sua (nossa) reflexão.
Muitos de nós vivem, sim, relações estáveis, maduras, sadias, que nos ajudam a crescer espiritualmente e nos põem em comunhão com Deus. E os que não vivem podem viver; apenas ainda não chegou a hora - como acontece, ou pode acontecer, com qualquer filho de Deus. Afirmar o contrário seria, mais que uma inverdade, uma traição da graça divina e das bênçãos derramadas pelo Senhor sobre nós.
Agradecemos pelo seu interesse pelo nosso trabalho. Caso queira se aprofundar na questão de como conciliar essas duas identidades, de gay e católico, convidamos você a visitar estes links, para começar:
Nosso testemunho
Cristianismo maduro e responsável
A paz!
DC,quero agradece por postarem este artigo! Vejo nele uma forma de ajuda aqueles que estão perdido de Deus e de sua fé! Este artigo é uma forma de disse que não devemos desisti de Deus e de seu amor para conosco. Espero que todo o trabalho que é envolto a diversidade sexual por vcs possa ser abençoando e sei que é abençoando por Deus! Forte abraço, meus irmãos! Bruno!
Querido Bruno,
Deus, em seu amor por nós, nunca, jamais desiste da gente. Mesmo nos momentos em que duvidamos, sofremos, brigamos com Ele... Ele está sempre lá para nós, sempre de braços abertos, sempre nos carregando no colo.
Um beijo carinhoso, querido.
:-)
Este anônimo que foi o primeiro a comentar é o reflexo da multidão de religiosos que insistem em não entender sobre a homossexualidade, pelo contrario preferem estar cegos pelo preconceito, infelizmnte pessoas como estas só irão enteder o dia em que tiverem uma pessoa homossexual próxima, seja como filho, sobrinho, irmão, enfim...somente assim poderão amolecer os seus corações e por um momento sentar e conversar, e entender, ou ao menos compreender, o que já é de muito valor para nós que sentimos na pele todos os dias o quanto é dificil trilhar m caminho de preconceitos e exclusões! a paz amigos!
Pois é, Ricardo... infelizmente a incompreensão - e às vezes o desrespeito, e às vezes a intolerância - existe...
Pior é que há casos em que a pessoa é até bem-intencionada, e quer nos "ajudar" como se estivéssemos doentes. Sabe que recentemente nos deparamos com o comentário inverso? Um gay dizendo que "os gays que são católicos precisam de ajuda, pois ser católico faz mal para eles". É a mesma lógica de querer "ajudar" - uma lógica que, independente das melhores intenções, acaba sendo perversa e cruel por ser baseada num processo de normatização (o normal [e bom, e correto] é isso), de juízo de valor (se o que eu acho certo é diferente do que você acha certo, então você está errado)...
Como é difícil para todos nós podermos simplesmente aceitar as diferenças, e, se isso não prejudicar ninguém, deixar que cada um seja aquilo que faz sentido para a pessoa... Como é difícil não julgar o outro que é diferente de mim, não condenar, e, apesar da diferença, continuar vendo nele meu igual, meu próximo e meu irmão...
Mas estamos aqui para trabalhar e buscar sempre essa ética do respeito, da tolerância, do pluralismo e do diálogo, sem confrontação e sem violência. E vamos que vamos! ;-)))
Um abraço carinhoso!
:-)
Toda a equipe deste blog é muito atenciosa, sem dúvidas alguma são usados por Deus para este trabalho de inclusão a pessoas homossexuais na igreja, que o Espirito Santo continue iluminado cada um de vcs que faz este trabalho maravilhoso! precisamos de mais pessoas assim, humanas, sensiveis, e dispostas a dividir a vida com todos! obrigado! e estou sempre visitando aqui, blog excelente! e divulgando tbm!, rs
Obrigada, Ricardo, pelas suas palavras, que vêm confirmar que estamos no rumo certo e nos servem de alimento na nossa caminhada. Sua presença aqui é muito importante para a gente.
Lembramos sempre daquela oração de S. Francisco: Senhor, dai-nos paciência para suportar as coisas que não podemos mudar; coragem para mudar aquilo que podemos mudar; e sabedoria para reconhecer a diferença.
Um grande abraço, querido. Que a paz do Senhor esteja sempre no seu coração.
:-)
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