segunda-feira, 22 de agosto de 2011

The Scientist

Foto fornecida pelo autor

E aqui estamos nós: uma formulação química impossível, um improvável encontro de antagonismos, uma harmônica tensão de dissonantes.

Você, a personificação de todos os valores burgueses, o cabelo certinho, o terno bem alinhado, a eficiência como meta, o sucesso na carreira como a suprema justificação da existência.

Eu, com minha rebeldia - que a cada hora muda de causa -, minha incansável verborréia contra o sistema, minha utópica revolução para extinguir a fome, minha insistência em permanecer “new hippie” e démodé.

Agora, com o mundo girando em torno de nós, seu beijo redime a música do Coldplay, enquanto Chris Martin trina as notas de “The Scientist”.

Sim, questões de ciência e progresso não falam tão alto meu coração. Com você tudo se torna inexplicavelmente suave e eu descubro uma outra fome disfarçada entre meus anseios. A única revolução possível em nossa vida ocorre quando é despertado em nós o amor. Todas as outras decorrem desta primeira. Eu sei, isso soa como um clichê, ainda mais quando o amor se encontra deformado por inumeráveis caricaturas. Talvez muitas verdades tivessem algo a nos dizer antes de seguirem o caminho da banalização, tornando-se clichês.

Eu sinto o calor do teu corpo responder ao meu e me dou conta da estupidez de todas as guerras travadas até agora, de todo ridículo preconceito que me fazia dividir as pessoas em “conscientes” e “alienados”; de todo julgamento que proferi a quem, na realidade, estava tão perdido e faminto quanto eu, tão desejoso de um momento como este que rompesse as despóticas divisões do “isto sim/ aquilo não”. Quem nos tornou tão ávidos de rótulos? Seria essa uma armadilha – vingança – da nossa absurda confiança na dominação conceitual da realidade?
Quando tantas teorias e sistemas caíram por terra, cedendo seu lugar a novidades que muito provavelmente terão o mesmo destino, que estranha segurança haurimos em impor a verdade abstratos limites que negam a maravilhosa pluralidade de seus matizes?

Somos tão parecidos e tão singularmente irrepetíveis!

Deus, quanto tempo desperdicei enquadrando o mundo na estreiteza de minha pré-compreensão!
Viva a semelhança! Aquilo que nos torna, ao mesmo tempo, construtores e vítimas de uma mesma humanidade.

Viva as diferenças! De pensamento, idéias, anseios, sexualidades...

Quantas barreiras tivemos de transpor ou derrubar, eu e você, para deixar ao outro o espaço para ser ele mesmo?

Sim, “ninguém disse que seria fácil. Mas ninguém disse que seria tão difícil.”

E talvez tenha de ser assim. Criar um mundo de respeito e acolhida implica uma batalha contra tudo o que impede a concretização deste ideal em si mesmo e nos relacionamentos mais próximos, em primeiro lugar. Deixar o conforto do re-conhecido, do seguro, para aprender a amar o diferente pode ser fascinante, mas também doloroso. A Bíblia diz, no livro do Cântico dos cânticos, que o Amor é forte como a morte. Decididamente o amor não é o sentimento transbordante dos folhetins românticos. Ele surge sempre como avidez, desejo de posse e satisfação. As repetidas frustrações da imagem que idealizamos no outro são como pedras de toque para sairmos de nós mesmos e abraçarmos o real, inevitavelmente marcado pela incompletude, pelo devir. A decisão de ir além da auto-satisfação egóica abre inesperadas paisagens de uma riqueza apenas pressentida naquele que nos atraiu. É preciso estar disposto a suportar os atritos entre “o que se é” e “o que se gostaria que fosse”.

Quando eu vejo seu rosto assim, tão perto do meu, pesa o meu coração de tanta ternura e eu descubro que isto também é fruto do amor, ensinando-me que sou demasiado pequeno para acolher a vastidão sem fronteiras que cada vida humana é. Para acolher a vida, esse mistério escondido no sopro que percorre o teu corpo, que o aquece e anima.

Seria isso o que chamam de um tempo de graça? Perceber a maravilha de existirmos, de estarmos juntos e sermos agradecidos por termos a nós mesmos e uns aos outros, ao invés do nada? Seria esse instante que arranca do cotidiano toda máscara cinzenta da repetição e deixa tudo se mostrar nas vibrantes cores que encheram de admiração o primeiro homem criado?

Oh, sim, seria uma pena nos separarmos. Umas vezes eu quis, outras você, pois ninguém nunca nos alertou como seria difícil amar de lados tão opostos do abismo, de idéias transitivas que teimávamos em tornar perenes. Que bom, a vontade de permanecermos juntos superou o desejo de evitar a dor.

Então, aqui e agora, na improbabilidade do tempo, eternizemos esse instante, esse beijo, essa entrega.

“ I´m going back to the start...”

Sempre…

- Thiago
Lins

Enviado pelo Facebook

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