O livro "Olhares de Cláudia Wonder" lança diversas questões interessantes, todas a partir da desnaturalização da pergunta: "É menino ou menina?". Uma das questões do livro foi a que eu trabalhei na minha dissertação de mestrado: "Existe uma cultura gay?". Que eu procurei responder com a psicanálise e para a psicanálise, a resposta é não. A resposta da Cláudia é diferente, para ela existe sim uma cultura gay e o travesti é a personificação dessa cultura, ela justifica isso dando o exemplo no Brasil, em que nos anos 70, os travestis representavam a visibilidade dos gays dentro da sociedade, travestis famosos como Rogéria, Valéria, que eram capa das revistas (como a Manchete), destaques no Carnaval, no programa do Sílvio Santos, em shows no estilo revista, antes mesmo do estabelecimento de boates gays, quando os shows dos travestis eram presença obrigatória. Nessa mesma época os Dzi Croquetes fizeram sucesso (e são citados pela própria Claudia, que não cita, mas eu incluo Os Secos e Molhados). Nos anos 80 a beleza e o sucesso de Roberta Close e Thelma Lip as transformaram nos rostos da comunidade gay brasileira. Não está no histórico da Cláudia, mas nos anos 80, o fenômeno do sucesso do Boy George (na época na banda Culture Club) também chegou ao Brasil. E os clubes que começaram a misturar gays e heterossexuais pelo Brasil, o Madame Satã em São Paulo, o Crepúsculo de Cubatão no Rio de Janeiro, o Periferia em Fortaleza, tudo isso faz parte desse cenário que a Cláudia pinta. E eu concordo com ela que o Festival Mix Brasil ajudou a mudar esse panorama e embora os travestis nunca tenham deixado de existir o gay passou a ter uma representação ou representações fora do universo do travesti, seja ele qualquer uma das figuras sob o termo transgênero, embora a pergunta sobre o gênero continue pairando sobre a homossexualidade que não deixa de confundir a resposta: "É menino ou menina?".
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Hugo Nogueira
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Mais informações e uma entrevista com Claudia Wonder, incluindo o trailer do documentário "Meu amigo Claudia", aqui
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