Foto: Luís Beltrán
John Main disse que o grande desafio para o Cristão moderno é encontrar uma nova linguagem para compreender e comunicar a fé que nos une a Cristo. Esse é um desafio que abrange mais estágios do que pode parecer à primeira vista.
Primeiro, exige que mergulhemos nosso pensamento e nosso vocabulário tradicional em silêncio profundo, puro. Quando meditamos, não estamos pensando ou falando com Deus, mas apenas sendo em Deus. Este ser é silencioso. Plenamente compreendido, é silêncio - a total atenção e comunhão que é o amor de Deus.
Em segundo lugar, exige que arrisquemos nossas crenças familiares e nossa linguagem. Desconhecer ou rejeitar não é o mesmo que colocá-las de lado à medida que entramos no silêncio. Mas no começo pode parecer que estamos rejeitando ou até mesmo traindo o nosso sistema de crenças mais profundas. Temos de descobrir, em nossa própria experiência, que a meditação ensina, a todos os que a praticam, crentes e não crentes igualmente, que a fé é mais profunda do que a crença.
Em terceiro lugar, temos de voltar do silêncio e nos envolver com outras pessoas de boa vontade, para o bem comum do mundo. Não estamos tentando convertê-los ou impressioná-los. Estamos apenas sendo o que a fé e o silêncio nos possibilitam ser e podemos, portanto, aceitar e respeitar os outros como são. Desta forma, vemos Cristo de um modo novo e maravilhoso.
Ir ao encontro daqueles que não creem - um cientista agnóstico, por exemplo - em tal silêncio é esclarecedor tanto para nós e como para eles. É um deserto, um lugar de simplicidade radical e verdade, de auto-conhecimento, onde não podemos nos esconder por trás de uma máscara religiosa ou psicológica. É um encontro quaresmal em que aceitamos a necessidade de auto-contenção. Mas as rajadas do deserto se tornam flores e a Quaresma torna-se alegre quando duas pessoas honestas se encontram, seja lá onde e como estejam reunidos.
- Laurence Freeman, OSB
Publicado originalmente no site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil. Tradução: Leonardo Corrêa. Grifos nossos. Tweet
Nenhum comentário:
Postar um comentário