sábado, 24 de agosto de 2013

Ele saiu do armário, eu entrei


Por muitas vezes a ficção imita a realidade. Em outros casos, ela ajuda os telespectadores a lidar com assuntos delicados que podem causar grandes traumas no seio de uma família. É o caso da novela Amor à Vida que está trazendo à tona a discussão sobre a homofobia dentro dos lares. Na trama, o César, personagem de Antonio Fagundes não recebeu bem a notícia que seu filho Félix, vivido por Mateus Solano, é gay. Ana Maria levanta a questão: o que um pai e uma mãe devem fazer quando um filho ou uma filha diz: “Eu sou gay”?
Para se ter uma ideia, só em 2012, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos registrou quase 10 mil casos de violência homofóbica. Isso representa um crescimento de 166% em relação a 2011. Além da violência física, muitos homossexuais sofrem violência psicológica onde eles deveriam poder contar com maior apoio: dentro de casa.
Mais Você conversou com a dona Neusa Dutra, funcionária pública aposentada. Ela contou que desabou quando o filho de 19 anos assumiu que era gay.  “Eu quase bati o carro. Caiu como um raio. Fiquei trêmula, ainda bem que estávamos perto de casa. Catei uma garrafa de vodka, fui bebendo e ligando para todo mundo. Ligava para xingar algumas pessoas que andavam com ele. Achava que ele era um grande conquistador, tinha um monte de amigas, não enxergava que aquilo era um sinal”, relembra.
Após o desabafo, Neusa diz que fez o caminho inverso do filho. “Tomei um porre, chorei e aí, o que eu fiz? Entrei no armário. Ele saiu, eu entrei. Não falava uma palavra para ninguém, não falava mais dele. Eu pensava: droga você cura, interna. Gay não tem jeito. Então percebi que quem precisava de ajuda era eu”, conta.

Jovem expulso de casa quando se assumiu: ‘O filho dela não poderia ser gay’
A vida de dona Neusa mudou quando ela descobriu um grupo de apoio a pais de homossexuais que a ajudou a entender melhor a orientação sexual do filho. Esse grupo ajudou também o jovem Felipe, de 21 anos, que chegou a ser expulso de casa quando decidiu abrir o jogo com a família.  A mãe insistiu que aquilo iria passar. Algum tempo depois voltou ao tema com outro discurso. “Ela disse: ‘você para mim morreu no dia que você contou. Você foi um Judas.’ O filho dela não poderia ser gay, isso iria contaminar as filhas dela”.
Felipe fez a mochila e embarcou num período difícil. O refúgio foi na casa de amigos. Ele só podia aparecer em casa de vez em quando para ver as irmãs. Mas em uma dessas visitas, seis meses depois, ele e a mãe começaram a se reaproximar. O jovem já frequentava um grupo de jovens homossexuais e soube que havia outro, que reunia pais de adolescentes gays. Foi fundado por Edith Modesto, em 1997, uma época em que o assunto era ainda mais delicado. “Antigamente, nem o filho do vizinho podia ser gay. O gay tinha que estar bem longe. Hoje, o filho do vizinho já pode ser gay. O próprio, ainda não. Mas houve uma mudança positiva no sentido de aceitação das diferenças”, analisa Edith.
Com o apoio do grupo, tanto dona Neusa quanto Felipe conseguiram resgatar a harmonia familiar. “Ela já conheceu um companheiro que eu tive. Agiu de forma muito positiva”, contou o rapaz. Já Neusa, fez uma viagem em família. Ela, o filho e o companheiro dele com a mãe. Sem preconceito e com o amor revigorado. “Voltei a ser aquela mãe que exibe o filho para as amigas”.

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