domingo, 13 de maio de 2012

"Eu tenho orgulho do meu filho gay"

Imagem via Facebook

Há pouco menos de dois meses a professora aposentada Luci de Carvalho se submeteu a uma cirurgia para implantar uma prótese no joelho. Durante o período pré e pós cirúrgico foi assistida por sua nora, Aline, que é enfermeira e chegou a integrar a equipe cirúrgica. As duas ficaram amigas desde que a enfermeira começou a namorar a filha mais velha de Luci, a promoter de eventos Aline Carvalho.

Quando o bailarino Wesley Batista separou-se de seu primeiro companheiro, Moisés, depois de quatro anos e meio morando juntos, sua mãe, a manicure Eliane Batista, foi quem mais sentiu o baque. “Eu chorei mais que Wesley (risos). Era muito apegada ao Moisés e via ele sofrendo daquele jeito... Ele foi uma pessoa muito importante na vida do Wesley, o primeiro namorado, era um porto seguro. Fiz de tudo para que o casamento deles voltasse, mas não deu certo”, lembra Eliane.

Já a gerente de loja Rocélia Melo foi mais prática. Ao ver o DJ Victor Wesley, seu primogênito, insône pela casa, deprimido por conta do fim do namoro com Rafael, ela se dispôs a levar o então adolescente de 17 anos à casa do ex-namorado para tentar uma reconciliação. “Comprei uma caixa de bombons e um cartão para o Victor escrever e fui bater na casa do Rafael com ele. Não dava mais para ver meu filho sofrendo tanto e não fazer nada. Como ele não dirigia, peguei o carro e eu mesma fui”, conta Rocélia.

Aceitação
A comerciária, a professora e a manicure não se conhecem, mas as três partilham de uma mesma atitude. Todas elas lidam tranquilamente com a homossexualidade de seus filhos.

Por causa destas mulheres, nestas três famílias, a diversidade sexual não é razão para distanciamento. “Não tem porque ser diferente. Ser homossexual não é desvio de caráter. Meu filho é gay, não é drogado nem marginal. Amo meu filho agora mais que nunca”, declara Eliane.

Luci não fica atrás. Segundo ela, a família ficou muito mais unida depois que passou a conviver harmoniosamente com a homossexualidade de Aline. “Ela é minha filha, não faz diferença se é hétero ou não”, pontua.

Rocélia aponta vantagens no jogo aberto em sua casa. “Somos uma família feliz. A gente sabe onde ele anda, o que está fazendo, sem a preocupação de antes”.

Reação materna inicial foi de resistência
Hoje, pode até parecer fácil. Mas não foi sempre assim na relação de Wesley e Eliane e Luci e Aline. Quando os filhos saíram do armário (expressão comumente usada para definir o ato de assumir a homossexualidade), enfrentaram a resistência inicial das mães.

Recém-chegada do Rio de Janeiro, onde Aline nasceu e cresceu, Luci mandou a filha estudar em Manaus (AM), Natal (RN), João Pessoa (PB) e até de volta à capital fluminense na ilusão que a distância de Fortaleza iria “reverter sua homossexualidade”.

“Eu namorava com homens no Rio, vim me entender (como homossexual) aqui. Quando falei para minha mãe, ela me mandou estudar fora para ver se ‘passava a vontade’. Claro que não adiantou”, ri-se Aline, que, quando voltou para Fortaleza, ainda foi encaminhada a um psicólogo - que tinha a mesma missão (impossível) dos estudos distantes.

Já Eliane Batista caiu em depressão quando seu filho Wesley se assumiu gay, apesar de já ter suas desconfianças sobre a sexualidade do rapaz. “Mãe já sabe, né? Só não quer acreditar. Nenhuma mãe se engana a respeito disso”, garante. “Mas ele tinha namoradas, era muito bonito... Na verdade, eu fiquei apavorada. Sofri pelo preconceito que ele iria enfrentar“.

Passado o choque inicial, ambas asseguram que as dores do processo de aceitação da homossexualidade dos filhos (que chega a levar anos) é recompensada pela qualidade de relacionamento que eles ganham com o correr do tempo.

Histórias da hora de "sair do armário"
No dia seguinte à primeira vez que beijou um rapaz na boca, Victor Wesley, então com 16 anos, chegou para a mãe e sem rodeios disparou: “Mãe, eu sou gay”. Rocélia olhou para o filho, sorriu e respondeu: “Eu já sabia”. Minutos antes, o adolescente tinha dito a mesma frase para a avó, com quem era mais apegado. “Minha avó disse que tinha mulher demais no mundo para eu virar gay (risos). Mas, recentemente teve um primo que saiu do armário e a mãe dele não aceitou. Quando a avó soube foi lá conversar com ela”, conta o DJ.

Aline Carvalho contou primeiro para o pai, que ganhou a incumbência de “amaciar” a mãe. “Até então eu tinha muito mais intimidade com ele, depois que ele falou com ela foi que eu cheguei junto e me assumi para a mamãe”,a firma.

Quando Wesley, aos 17 anos, mostrou a foto de Moisés para Eliane e disse que era seu namorado, a manicure caiu na gargalhada, achando ser uma brincadeira. “Demorou um pouco para ela entender que eu estava falando sério”, conta o bailarino.

A seguir, os vídeos com os depoimentos das três mães:






Fonte: Jornal O Povo (aqui, aqui, aqui e aqui)

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Mães de gays saem em marcha hoje contra a homofobia

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