quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Va Pensiero



O vídeo de que trata este post é muito especial. É um fantástico exemplo para nós que temos, também, uma “representação parlamentar especial”… A história está narrada no corpo da mensagem abaixo.

No último dia 12 de março, Silvio Berlusconi enfrentou uma realidade. A Itália festejava os 150 anos de sua unificação. E isto aconteceu na Ópera de Roma, com a ópera “Nabuco”, de Giuseppe Verdi, dirigida pelo maestro Riccardo Muti.

Nabuco é uma obra tanto musical como política. Evoca o episódio da escravidão dos judeus na Babilônia, e seu famoso coro “Va Pensiero” – o canto dos escravos oprimidos. Na Itália, este canto é o símbolo da busca de liberdade do povo, que, ao final do século XIX – época na qual foi escrita a ópera -, estava oprimido pelo império Habsburgo, o qual foi combatido até a criação da Itália unificada.

Antes da apresentação, Gianni Alemanno, Prefeito de Roma, subiu ao palco para pronunciar um discurso denunciando a retaliação do Ministro da Cultura, que estava no Governo, apesar de Alemanno também ser membro do partido governante e velho ministro de Berlusconi. Esta intervenção política, em um momento cultural dos mais simbólicos para a Itália, produziria um efeito inesperado, posto que Berlusconi, em pessoa, assistia à apresentação da ópera.

Ricardo Muti, diretor da orquestra, contou que foi uma verdadeira revolução:

“No princípio, houve uma grande ovação do público. Depois, começamos com a ópera, que se desenvolveu muito bem, até chegarmos ao famoso coro ‘Va Pensiero’.

Imediatamente, senti que a atmosfera estava tensa no público. Existem coisas que não podemos descrever; porém as sentimos. Era o silêncio do público que era sentido. Porém, no momento em nos demos conta de que se iniciava o ‘Va Pensiero’, o silêncio se preencheu de verdadeiro fervor. Podia-se sentir a reação visceral do público’ ante o lamento dos escravos que cantavam: ‘Oh pátria minha, tão bela e perdida’.

Quando o coro chegou ao seu final, já se podiam ouvir, na platéia, vários “bis”. O público começou a gritar: “Viva Itália!”, “Viva Verdi!”, “Longa vida à Itália!”. As pessoas da galeria começaram a atirar panfletos com mensagens patrióticas.

Em certa ocasião, Muti havia aceitado de fazer um bis para o “Va Pensiero”, no Scala de Milão, em 1986, visto que para ele a ópera não deve sofrer interrupções. “Eu não queria somente fazer um bis. Teria que existir uma intenção especial para fazê-lo”, relata. Porém o público já havia despertado seu sentimento patriótico. Em um gesto teatral então, Muti se voltou para o público, olhou para Berlusconi e falou: “Sim, estou de acordo com isto. 'Longa vida à Itália!'.

Porém… Já não tenho mais 30 anos. Já vivi a minha vida; mas, viajei muito pelo mundo, e hoje tenho vergonha do que acontece em meu país. Então, cederei ao pedido do público para um bis para o ‘Va Pensiero’, novamente. Não é só pela dita patriótica que sinto, senão porque esta noite, quando dirigia o coro que cantou “Ai minha pátria, bela e perdida”, pensei que se seguirmos assim vamos matar a cultura sobre a qual se construiu a história da Itália. Em tal caso, nossa pátria estaria em verdade 'bela e perdida'."

(Aplausos, inclusive os dos artistas em cena)

E continuou: "Já que reina aqui um clima italiano, eu, Muti, calei minha boca por muitos anos. Quisera agora dizer algo… Teríamos que dar sentido a este canto; estamos em nossa casa, no teatro de Roma, e com um coro que cantou magnificamente bem e acompanhou de forma esplêndida. Se querem, proponho a todos de unir-se a nós para que cantemos juntos."

“Vi grupos de gente levantando-se. Toda a ópera de Roma se levantou. E o coro também. Foi um momento mágico na ópera. Essa noite não foi somente uma representação de Nabuco, mas, também, uma declaração do teatro da capital para chamar a atenção dos políticos”.

Nessa diáspora da cidadania, nós LGBTs do Brasil também vivemos insuportável opressão. Qual será o nosso canto?

Fonte: Gay Católico

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