Pintura: Jeff Ramirez
São Mateus nos conta que depois de ter multiplicado pães e peixes, Jesus manda os discípulos seguirem para outra margem do lago, enquanto ele ainda ficaria um pouco mais com a multidão que alimentou. Seguem de barco. A noite é escura e há chuvas e ventos fortes. Ainda que conhecedores daquelas águas, o grupo está amedrontado pela força da tempestade. E eis que no meio do lago, surge a figura do Mestre andando sobre as águas, firme, sem titubeios ou perigos. É Pedro que o reconhece e logo pede para ir ao Seu encontro. Mas, assustado pela força do vento, começa a afundar. Só a mão do Senhor o salva. Quando entram juntos na barca, o mar, o vento e a chuva se acalmam.
Quantas tempestades passamos em nossas vidas? Não aquelas que muitas vezes assistimos pelas janelas e que até nos maravilham, mas tempestades interiores, que corrompem a tranqüilidade de nossos dias, que nos enchem de angústia, que tornam escuro o que até então nos parecia claro... E como reconhecer o Mestre que caminha firme ao nosso lado, pois nada pode detê-Lo? Como ter coragem para nos lançarmos como Pedro, ao seu encontro e com Ele retornar para o rumo dos dias, certos de que com Ele em nosso barco, este não afundará e tudo se acalmará?
Há algum tempo ouço dizer que o medo deveria ser considerado um dos pecados capitais. E mais: o medo não pode fazer parte dos sentimentos de um cristão, posto que não vem de Deus. Mas, não podemos nos furtar de senti-lo quando diante de situações extremas ou nebulosas. Justifica-nos saber que até mesmo o Cristo, diante da Paixão experimentou esse sentimento em seu coração e precisou dos anjos de Seu Pai para receber o devido consolo.
Creio que são nesses momentos que temos a oportunidade de sentir e testemunhar nossa fé. Se a noite escura nos prova, saber que em algum ponto dela Jesus está lá, nos enche de consolo. Ainda que O vejamos nebuloso, tal como os discípulos o viram como um fantasma, aquele que crê sabe que o Senhor não o deixará só, que precisa apenas de coragem – como Pedro – para lançar-se às águas e de estender a mão ao Mestre para fazê-lo entrar na barca e continuar conosco. Como nos lembra o Evangelista, somente quando Jesus efetivamente entra no barco, tudo se acalma. Ele precisa, portanto, acercar-se de nós, estar dentro de nosso coração, tomar posse de Seu espaço para poder realizar a maravilha e podermos nos espantar, como seus amigos: quem é este que faz o mar acalmar, a tempestade cessar?
Este episódio da vida de Jesus é pleno de ensinamentos para cada um de nós. Possamos tirar dele a força necessária para navegar com firmeza em nossas tempestades.
Para sua oração: Mt 14, 22-33
- Gilda Carvalho Tweet
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