sexta-feira, 17 de junho de 2011

Teólogo pede mais humildade na Igreja


O teólogo Paul Lakeland, dirigindo-se a várias centenas de teólogos católicos reunidos em San Jose, Califórnia, pediu uma boa dose de humildade adicional quando a nossa Igreja olha para o mundo.

A reportagem é de Thomas C. Fox, publicada no sítio National Catholic Reporter, 10-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto, reproduzida via IHU com grifos nossos.

Sua conferência ocorreu no segundo dia do 66º Encontro Anual da Sociedade Teológica Católica dos EUA, o maior órgão de teólogos católicos da América do Norte. Lakeland é professor e presidente do Centro de Estudos Católicos da Fairfield University, em Fairfield, Connecticut.

Em uma conferência intitulada "Eu quero estar entre eles: Desejo, inclusão e a Igreja", Lakeland usou a literatura contemporânea e o imaginário evangélico – principalmente a parábola do Bom Samaritano – para construir a sua tese sobre a humildade.

Mas primeiro questionou: "Por que devemos nos centrar na virtude da humildade em uma apresentação sobre o tema da conferência sobre 'todos os santos'?". Respondendo à sua pergunta, ele disse que uma boa razão é que "a humildade é uma virtude definidora da santidade".

A razão eclesiológica mais importante para a atenção para a humildade, disse, é que, sem ela, qualquer exame de "todos os santos" inevitavelmente irá gravitar em torno do vício da exclusão.

"De fato, eu me sinto confortável ao dizer que muitos dos nossos males eclesiais de hoje são produtos do pecado da exclusão e podem ser abordados pela atenção à virtude da humildade".

Disse Lakeland: "Se estamos engajados em comparações invejosas e muitas vezes ignorantes entre a santa Igreja e o mundo pecaminoso, ou em comparações espiritualmente vazias entre a plenitude da verdade na 'nossa' tradição e os defeitos das outras, estamos envolvidos no negócio da exclusão, varrendo para fora o santo mistério de Deus para impor as nossas falíveis considerações humanas sobre onde os santos podem ser encontrados".

"Dentro da Igreja, tais crimes são cometidos quando um subgrupo da comunidade, em nome de suas convicções sobre o que a pureza parece ser, e persuadido de que pode falar por Deus, marginaliza os outros, quer eles sejam divorciados, gays e lésbicas, ou irmãs religiosas que realizam seus trabalhos, quer estejam trabalhando nos hospitais católicos ou no Congresso, quer, de fato, eles sejam até mesmo apenas teólogos".

Humildade eclesial
Lakeland, em seguida, explorou as várias facetas da humildade eclesial, construindo seu discurso em parte sobre passagens dos escritos de Flannery O'Connor e do Bom Samaritano. Ele também citou os escritos da professora de teologia da Fordham Elizabeth Johnson.

"Elizabeth Johnson escreveu que, pelo fato de 'a comunhão dos santos não limitar a bênção divina ao seu próprio círculo (...) ela engloba todas as pessoas que vivem da verdade e do amor'. A maioria de nós, senão todos, somos confiantes de que a salvação é oferecida a todos, não apenas aos batizados, ou teístas, ou crentes no 'transcendente'".

Lakeland continuou: "Deveríamos ser, todos os dias, disciplinados pela advertência em Mateus 25 de que o Juízo Final será um dia de grandes surpresas".

Yves Congar, disse Lakeland, escreveu certa vez que a Igreja e o mundo não devem ser imaginados "como dois soberanos coroados olhando de lado um para o outro, por estarem sentados no mesmo estrado", mas "muito mais como o Bom Samaritano, que segura em seus braços um homem semimorto, a quem ele não vai abandonar porque foi enviado para ajudá-lo".

"No momento teológico da celebração, a identificação da Igreja com o Bom Samaritano que vai ao encontro da vítima ferida é uma importante afirmação da prioridade da missão que chama a atenção para o fato de que a Igreja, ao longo da história, tem sido uma fonte de socorro e de consolação para as pessoas que sofrem, católicas ou não".

"Na tradição católica em particular, muitas ordens de mulheres religiosas sempre deram uma enorme contribuição aos campos da enfermagem e da educação. Os religiosos, tanto homens quanto mulheres, exerceram uma opção preferencial pelos pobres muitos séculos antes de essa frase ter sido cunhada. Ainda hoje, a Catholic Charities é a maior rede privada de organizações de serviço social nos EUA, e grande parte do seu trabalho é dirigido à ajuda direta aos mais necessitados, cristãos ou não. Quer se chame esse trabalho de humanização, pré-evangelização ou de preparação para o Evangelho, é um componente integrante da missão e do testemunho sem o qual a proclamação da boa nova de Jesus Cristo fica incompleta.

"A autorreferencialidade ou as tendências centrípetas da Igreja são evidentes na vida eclesial hoje. Elas são o lado sombrio do bem que fazemos e da comunidade santa que somos, mas seguem claramente uma ênfase dialética na celebração. Nos termos da parábola do Bom Samaritano, elas são o que acontece quando nos regozijamos com a nossa identificação com o modelo de preocupação pelos outros e esquecemos o contexto inquietante em que a parábola é contada. Se somos o Bom Samaritano que vem ao auxílio da vítima, então também somos o sacerdote e o levita que está muito ocupado com as 'coisas de Deus' para se preocupar com os prantos da vítima".

Ele continuou dizendo que a parábola do Bom Samaritano é menos uma história sobre fazer o bem do que uma história de "romper fronteiras".

"Ainda mais, a história afirma que não há limites para ser cordial com o próximo. Amar o seu próximo como a si mesmo não tem a ver com os limites ('quem é o meu próximo?'), mas sim com a ausência de limites ('Todos!'). O homem da lei, o sacerdote e o levita trabalham dentro da lei e querem saber o que ela requer. Jesus ensina-os a abandoná-la. As consequências dessa parábola para interpretar a relação correta entre a Igreja e o mundo são, portanto, consideráveis".

Em suas "Hesitations Concerning Baptism", Simone Weil apresenta um conjunto desafiador de reflexões sobre a presença da Igreja no mundo, moldado na forma de uma explicação de por que a crença em Deus não significa que ela necessariamente irá tentar entrar na Igreja, afirmou Lakeland.

"Weil escreve que o medo que ela tem da Igreja é que ela pode se tornar facilmente um 'nós' em oposição ao 'eles' do mundo".

Lakeland disse que Weil aponta para os perigos do tipo de xenofobia eclesial que perseguiu a Igreja no passado, particularmente no que John O'Malley chama de "longo século XIX", que se estende da Revolução Francesa até as vésperas do Concílio Vaticano II".

Lakeland continuou dizendo que é difícil não ver algo como o "Syllabus de Erros" ou a definição da infalibilidade papal no Concílio Vaticano I – independentemente de terem sido formalmente corretos no seu tempo – como algo motivado por uma determinação a afirmar a retidão da Igreja contra a falsidade do mundo.

"Onde, na verdade, em todo esse longo século, há alguma humildade eclesiástica perante o mundo? E, se depois do Concílio Vaticano II, ultrapassamos a demonização do outro religioso, ainda continua sendo verdade que, quando a Igreja usa uma linguagem como a da Dominus Iesus, ou quando cria um 'ordinariato' para os anglicanos conservadores que fogem de sua Igreja, independentemente de quão formalmente corretos eles possam estar, eles não fazem absolutamente nada para aproximar mais a Igreja e o mundo".

"Quando os padres do Concílio Vaticano II disseram que há um sentido real que a Igreja deve aprender com o mundo, eles queriam dizer que precisamos da sua ajuda a fim de sermos mais plenamente a Igreja de Deus".

Lakeland concluiu dizendo que uma eclesiologia crítica é aquela que "leva a sério as limitações da Igreja". "O fato de a Igreja não existir para si mesma, mas pelo bem do mundo, a missão salvífica que Deus confiou à Igreja, é um dado da eclesiologia contemporânea. O que nem sempre fica muito claro é que, sendo uma comunidade sacramental, ela é, ao mesmo tempo, positiva e negativa. É o amor de Deus pelo mundo e também é necessitada do amor de Deus pelo mundo. Ela é Deus presente e Deus ausente. É agraciada e pecaminosa. É o lugar do desejo ordenado e do desejo desordenado. Ela busca a integridade e fica aquém dela. Ela cura e precisa de cura. É o Bom Samaritano que abraça a vítima e a vítima abraçada pelo Bom Samaritano. É a Igreja que ensina e a Igreja que está sempre precisando ser ensinada".

"Assim como o mundo precisa do Evangelho tanto quanto sempre, ele precisa de uma Igreja que não pense que tem todas as respostas, mas que esteja preparada para trabalhar em solidariedade com os outros na busca pela verdade que vai nos libertar a todos, uma Igreja que veja o diálogo com o nosso mundo secular como um encontro de graça com a graça, e de pecadores com pecadores, e de santos com santos".

Um comentário:

Anônimo disse...

Que palhaçada é essa? Um satanista que se fez teólogo agora diz que é de Cristo é pecado? Quem é esse borra botas para dizer que o que vem de Cristo, que é puro, é pecado de exclusão e que todos são salvos, independentes de estarem em estado de Graça? Ainda cita Yves Congar, o excomungado...

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