terça-feira, 7 de junho de 2011

''Caro Santo Padre, diga algo contra a homofobia''

Foto via IHU

"Santo Padre, o silêncio de Vossa Santidade é muitas vezes interpretado pelas pessoas que cometem atos de violência, tortura e assassinato como um parecer favorável às suas ações... Assim como as passagens em favor da escravidão, os versículos da Bíblia que apoiam o assassinato de pessoas que praticam atividades sexuais com pessoas do mesmo sexo não devem ser interpretadas literalmente".

A reportagem é de Delia Vaccarello, publicada no jornal L'Unità, 06-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto, aqui reproduzida via IHU com grifos nossos.

O Fórum Europeu dos grupos cristãos de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (que conta com 44 entidades dos 23 países) vai enviar, no dia 10 de junho, uma carta ao papa (atualização em 11/6: publicamos a carta na íntegra aqui). A mensagem de fundo é clara, libertadora, daquelas sobre as quais se pode construir uma mudança. Os fiéis cristãos se recusam a serem considerados contra a natureza, merecedores de tratamento e indignos de compaixão. São pessoas que têm o direito à felicidade e sabem "dar o melhor de si no trabalho e no apoio aos outros".

Com a carta, pede-se um posicionamento claro contra a homofobia, uma condenação dos atos de violência (como o assassinato do ugandense Kato), a colaboração para a descriminalização dos atos homossexuais em nível mundial.

Novo ar dentro da Igreja Católica, como testemunha o próprio Fórum, que aprovou o texto da carta no final de maio para enviá-lo no dia 10 de junho, em Roma, por ocasião da conferência organizada pela Nuova Proposta [associação de leigos/as cristãos/ãs homossexuais] dentro do EuroPride, intitulada: "As pessoas homossexuais e transexuais e as Igrejas cristãs na Europa". Entre os relatores da manifestação estarão John McNeil, um dos padres fundadores da teologia gay, excluído da ordem dos jesuítas por sua defesa da homossexualidade.

Com essa carta ao papa, os cristãos passam de vítimas de medo e de desespero – por serem excluídas e muitas vezes condenadas – a pessoas que têm a coragem de romper o silêncio. Entre os pontos fundamentais, indicam com clareza a Bento XVI os danos provocados pelas terapias reparativas: "Ainda existe uma forma de pressão por parte de alguns expoentes do clero da Igreja Católica Romana sobre os cristãos LGBT para que se submetam a 'terapias reparativas' para modificar o sua própria orientação sexual. Essa estratégia da Igreja e o pedido às pessoas LGBT para viverem a condição da castidade são causa de muitas tragédias, incluindo suicídios e graves estados de depressão, entre quem tenta observar e seguir heroicamente os ensinamentos da Igreja".

O pedido é claro: "Vossa Santidade, que não se dê mais como indicação que as pessoas homossexuais devem se submeter a terapias, mas sim que tenham direito a uma vida que preveja também uma relação afetiva sob o signo da fidelidade".

Como o papa irá responder? O texto não é daqueles que possam cair no vazio. O papa sabe que algumas dioceses começaram uma pastoral de acolhida para os grupos gays? Não chegou do alto nenhuma de ordem para parar: isso significa que está sendo dada autonomia aos bispos sobre o assunto? Se o povo católico vir, nas Igrejas, lésbicas e gays ativos como todos os outros, o efeito será a dissolução de parte dos preconceitos.

São muitas as novidades a respeito de homossexualidade e fé em cena na EuroPride: no Pride Park da Piazza Vittorio, a mostra fotográfica "My spirituality, volti e anime di persone glbt cristiane", com fotos de Luca Lo Iacono e textos de Andrea Rubera. Na parada, participarão pela primeira vez, reunidos por trás da mesma bandeira, mais de 40 grupos e associações de cristãos homossexuais, católicos e evangélicos, provenientes da Itália, Alemanha, Espanha, Noruega, França, Inglaterra e do resto da Europa. O papa não poderá ignorar seus rostos e suas palavras.

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