segunda-feira, 5 de agosto de 2013

“Não julguem, e vocês não serão julgados” (Mt 7,1)




Francisco “leva mais a sério o que disse Jesus do que aquilo que as normas vaticanas impõem”, escreve o teólogo José María Castillo, em artigo publicado em seu blog Teología Sin Censura, 30-07-2013. A tradução é do Cepat, aqui reproduzida via IHU.

Se algo está ficando evidente em relação ao papa Francisco, cada dia mais evidente, é que se trata de um papa que acredita mais no Evangelho do que no papado, que leva mais a sério o que disse Jesus do que aquilo que as normas vaticanas impõem. Não pretendo discutir agora, nem sequer insinuar que haja, ou possa haver, contradições entre o Evangelho e o Vaticano. Refiro-me ao que é a “convicção determinante” na vida.

Essa convicção pode ser a bondade ou pode ser o poder. Existiram papas cuja convicção determinante foi a bondade, assim como papas cuja convicção determinante foi o poder. Pois bem, o mecanismo que faz funcionar a bondade é o respeito a todos, ao passo que o mecanismo que faz funcionar o poder é o julgamento. Isto ficou claro no princípio satânico que a serpente pronunciou, no mito do paraíso, quando disse para Eva: “Vocês se tornarão como deuses, conhecedores do bem e do mal” (Gn 3, 5).

O que define Deus, segundo o demônio, é o poder que delimita o que está bem e o que está mal. E para isto, muitas vezes, os chamados “representantes de Deus” na terra se dedicaram. Por isso, sem dúvida, o papa Francisco se dedicou, em seu ainda curto pontificado, a atiçar fortemente os clérigos, começando por ele mesmo, pelos papas, os cardeais, os bispos, os padres, os freis... Os clérigos, disse Francisco, tem distanciado os jovens da Igreja. Uma Igreja que se dedicou em julgar a bons e maus. Uma Igreja que se dedicou a se “fazer de Deus”, a produzir a impressão de que tem a última palavra, como se fosse Deus.

Por isso, em poucos minutos, a resposta que Francisco deu a um jornalista no avião, em seu retorno do Rio de Janeiro para Roma, circulou o mundo: “Se uma pessoa gay busca ao Senhor, quem sou eu para julgá-la?”. Francisco tem consciência de sua responsabilidade. Contudo, também sabe que esta responsabilidade está limitada por sua condição humana. Uma condição e sua conseguinte limitação, que o Papa sempre leva consigo, por mais papa que seja. Jesus proibiu seus operários de arrancar a cizânia do mundo porque – tenham a tarefa que tiverem – podem se equivocar. E pode muito bem acontecer que ao invés de arrancarem a erva daninha, passem a vida por este mundo arrancando o trigo de Deus (Mt 13, 24-30. 36-43). Apenas os anjos de Deus, em definitivo, somente Deus pode saber e pode decidir o que está bom e o que está ruim.

E para terminar, um critério que o papa Francisco deixou muito claro: “Os pecados se perdoam, os crimes não”. O problema é que abundam os clérigos (com seus coroinhas) que, caso seja preciso, atiram-se na rua para pedir que, enquanto for possível, algumas coisas que o Catecismo diz sejam copiadas no Código Penal. Já é ruim pecar e ter que se confessar, entretanto, se acima disto, você precisa passar pelo juizado para acabar na prisão... não é isso pretender que o nacional-catolicismo retorne?

Santo Deus! Não nos cansemos de ser boas pessoas. Porque apenas a bondade – e sempre a bondade – tem força para mudar o mundo. E até para dar uma nova virada na história.

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