segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Uma Porta Entreaberta...
No passado mês de setembro, o Conselho Família e Sociedade da Conferência Episcopal Francesa fez publicar um documento intitulado «Estender o casamento às pessoas do mesmo sexo? Abramos o debate!», que passou despercebido a muita gente, mas que, pela importância que lhe está subjacente, merece a nossa análise e que aqui partilhamos nas suas partes mais importantes.
Depois de implicitamente afirmar a posição já sobejamente conhecida da hierarquia católica ao reconhecer que a «abertura do casamento civil (em França, como noutros países, não existe a palavra casamento – para o casamento civil – e matrimónio – para o casamento religioso, como acontece em Portugal) a pessoas do mesmo sexo e a consequente possibilidade destes recorrerem à adoção, é um problema grave, reconhece que a Igreja participará neste debate «que se quer respeitador das pessoas» no sentido de servir o bem comum. Aqui reside a primeira «novidade» do documento um debate «respeitador das pessoas» quando todos sabemos que, normalmente, a hierarquia católica, a começar nas suas mais altas instâncias, tem por hábito falar para os homossexuais e não com eles, em escuta e partilha.
Reconhece depois o documento que «a homossexualidade sempre existiu, mas até há relativamente pouco tempo, nunca houve a reivindicação por parte das pessoas homossexuais em dar um quadro jurídico a uma relação destinada a se inscrever no tempo, nem a se verem investidos numa autoridade parental. Pertence ao poder político escutar esta exigência e de lhe proporcionar a resposta mais adequada.»
Para que o debate em torno desta questão se possa realizar de forma salutar, reconhecem os bispos franceses que, por um lado, não se podem qualificar como homofóbicas as reticências e as interrogações colocadas a esta importante reforma do direito e, por outro lado, as pessoas homossexuais não podem, a priori, ser desqualificadas, pois o respeito por «todos os atores do debate implica uma escuta mútua, uma apetência para compreender os argumentos expostos e a procura de uma linguagem comum». Reconhecem ainda que «não se trata de impor um ponto de vista religioso, mas de dar a sua contribuição para este debate.»
Uma parte igualmente importante e a reter deste documento é o capítulo denominado «Recusar a homofobia». Demos, novamente, a palavra aos bispos franceses: «Durante muito tempo, as pessoas homossexuais foram condenadas e rejeitadas. Foram objeto de toda a espécie de discriminações e provocações. Atualmente isso não é mais tolerado, o direito proíbe toda a discriminação e todo o incitamento ao ódio, nomeadamente em função da orientação sexual, e devemos saudar essa evolução» e acrescentam «é preciso admitir claramente que a homofobia não desapareceu completamente da nossa sociedade. Para as pessoas homossexuais a descoberta e a aceitação da sua homossexualidade são muitas vezes um processo complexo. Nem sempre é fácil assumir a sua homossexualidade no meio profissional ou familiar. Os preconceitos são difíceis de morrer e as mentalidades mudam lentamente, incluindo nas nossas comunidades e famílias católicas… Pois o que fundamenta, para os cristãos, a nossa identidade e a igualdade das pessoas, é o facto que somos todos filhos e filhas de Deus.»
Seguidamente os bispos pretendem compreender a exigência das pessoas homossexuais, começando por afirmar que «as práticas homossexuais evoluíram e a aspiração a viver numa relação afetiva estável encontra-se mais hoje do que há 20 anos atrás» e constatando que «a diversidade das práticas homossexuais não deve impedir de levarmos a sério as aspirações daquelas e daqueles que desejam comprometer-se numa relação estável. O respeito e o reconhecimento de qualquer pessoa assumem agora uma importância primordial na nossa sociedade.»
Depois de reconhecerem a existência de diferenças específicas entre o casamento heterossexual e o homossexual, reconhecem que «podemos estimar o desejo de um compromisso na fidelidade de um afeto, de um compromisso sincero, da preocupação com o outro e de uma solidariedade que vai além da redução da relação homossexual como um simples compromisso erótico.»
Concluem os bispos franceses, depois de várias ilações «clássicas» sobre casamento, procriação e paternidade, que a igreja «reconhece, para além do aspeto sexual por si só, o valor da solidariedade, do cuidado e da preocupação com o outro que podem surgir numa relação [homossexual] afetiva estável. A Igreja quer-se acolhedora para com as pessoas homossexuais e continuará a sua contribuição na luta contra toda a forma de homofobia e de discriminação», sendo que «uma evolução no direito da família é sempre possível».
O tom apaziguador e sobretudo conciliador deste documento é certamente mais uma porta entreaberta, como outros sinais que aqui e acolá vão surgindo, no caminho certo do acolhimento verdadeiro e autêntico das pessoas homossexuais no seio da Igreja Católica. Precisamos todos (hierarquia católica, sacerdotes e fiéis, onde se incluem os homossexuais católicos), cada vez mais de buscar a orientação do Espírito Santo, para respondermos aos imperativos e exigências do Evangelho e da sociedade em que vivemos, de modo a que a Igreja, seja uma autêntica comunidade de fé, onde se proclama Jesus Cristo como Senhor e Salvador, evitando os perigos de modificar a Sua mensagem e de não mudar de métodos.
Saibamos todos, a exemplo de Cristo, dar testemunho através do amor, do serviço e do diálogo.
José Leote
Fonte: Rumos Novos Tweet
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