sábado, 5 de novembro de 2011

O nosso maior pecado é a incoerência


Jesus fala com indignação profética. O Seu discurso dirigido às pessoas e aos Seus discípulos é uma dura crítica aos dirigentes religiosos de Israel. Mateus o recorre cerca dos anos oitenta d.C. para que os dirigentes da Igreja cristã não caiam em condutas parecidas. Poderemos recordar hoje as recriminações de Jesus com paz, em atitude de conversão, sem ânimo algum de polêmicas estéreis? As Suas palavras são um convite para que bispos, presbíteros e todos nós que temos alguma responsabilidade eclesial façamos  uma revisão da nossa atuação.

“Não fazem o que dizem”. O nosso maior pecado é a incoerência. Não vivemos o que predicamos. Temos poder mas falta-nos autoridade. A nossa conduta desacredita-nos. O nosso exemplo de vida mais evangélico mudará o ambiente em muitas comunidades cristãs.

“Carregam fardos pesados sobre os ombros das pessoas… mas eles não estão dispostos a mover um dedo para empurrar”. É certo. Com frequência, somos exigentes e severos com os outros, compreensivos e indulgentes conosco. Angustiamos as pessoas simples com as nossas exigências, mas não lhes facilitamos o acolhimento do evangelho. Não somos como Jesus, que se preocupava em tornar leve a carga pois era simples e humilde de coração.

“Tudo o que fazem é para que as pessoas vejam”. Não podemos negar que é muito fácil viver pendentes da nossa imagem, procurando quase sempre “ficar bem” perante os outros. Não vivemos ante esse Deus que vê no segredo. Estamos mais atentos ao nosso prestígio pessoal.

“Gostam dos lugares cimeiros e das posições honoríficas… e que lhes façam reverências pela rua”. Dá-nos vergonha confessá-lo, mas gostamos. Procuramos ser tratados de forma especial, não como um irmão a mais simplesmente. Há algo mais ridículo que uma testemunha de Jesus procurando ser distinguido e reverenciado pela comunidade cristã?

“Não deixeis que vos chamem mestres… nem guias… porque um só é o vosso Mestre e o vosso Guia: Cristo”. O mandato evangélico não pode ser mais claro: renunciai aos títulos para não fazer sombra a Cristo; orientai a atenção dos crentes apenas para Ele. Por que a Igreja não faz nada para suprimir tantos títulos, prerrogativas, honra e dignidades para mostrar melhor o rosto humilde próximo de Jesus?

“Não chameis Pai vosso a ninguém na terra porque um só é o vosso Pai do céu”. Para Jesus, o título de Pai é tão único, profundo e íntimo que não há de ser utilizado por ninguém na comunidade cristã. Por que o permitimos?

- José Antonio Pagola
Comentário ao Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 23, 1-12, que corresponde ao 31º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico (30-11-11).
Reproduzido via IHU, com grifos do autor

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