segunda-feira, 11 de abril de 2011
Bolsonaro, obrigado pelo seu insensato coração!
Neste últimos dias em que as declarações de Bolsonaro remexeram a opinião pública, irei me manifestar com uma proposta de reflexão bem simples.
Primeiramente, quero salientar o ponto de vista de um autor muito estudado por qualquer pessoa que se interesse pelo tema TV e Cultura - Jesús Martín-Barbero. Grande parte de sua trajetória acadêmica versa sobre um profundo estudo das relações sociais formadas e pautadas a partir da TV. Barbero é, digamos, o maior especialista no campo da pesquisa latino-americana a respeito do assunto. Para saber um pouco mais clique aqui.
Seu trabalho é muito amplo, em linhas gerais, ele consegue distinguir, ou mesmos separar aquilo que “sai” da Cultura para TV e da TV para a Cultura. Seu principal objeto de estudo são as telenovelas, onde o autor salienta em suas pesquisas pelos países latinos que elas ocupam uma posição estratégica por conectar memórias e sensibilidades, mesmo que seja para (re)construir os imaginários coletivos.
Parando por aí pra não tornar este post demasiado longo, o que fica de Barbero para nós é o fato de que a novela, especialmente no Brasil devido aos altos índices de audiência, ocupa uma posição capaz de pautar assuntos que somente ela é capaz de fazer. Nossas características socioculturais, fazem com que especificamente o produto “Novela” seja o único dispositivo, ou pelo menos o mais eficiente, de comunicação capaz de conectar classes sociais de demografias muito distintas.
Pense que quando a questão da leucemia foi levantada em Laços de Familia, a mesma madame do Leblon que acompanhava sensibilizado o drama da personagem Camila (Carolina Dieckmann), era também acompanhada pela domestica que limpava sua casa, e em linhas gerais, é neste momento em que a domestica e a madame tem assunto pra conversar no elevador, é o que defende Barbero.
Há uma lógica bastante interessante e algumas questões. Até que ponto está a responsabilidade social de uma emissora em pautar determinado assunto? É da “mídia” ou do governo pautar as discussões de políticas publicas e/ou sociais? Eita, muito pano pra manga aí...
Não adianta chamar a emissora de boba, feia e chata. Quando Globo veio a público se retratar (veja aqui) dizendo que não haveria beijo gay na TV em Insensato Coração, houve uma revolta da militância. Mas ora, ela é uma empresa privada e tem obrigações comercias a cumprir. Segundo sua lógica, se for danoso pro seu negocio, não vai rolar. Aí meu caro, ou você reza pra que haja uma revolução socialista pra que se mude as lógicas capitalistas ou dialoga com as atuais e se propõe a entender seus sistemas lógicos pra ver se dessas pedras saem leite pras questões LGBT.
Mais uma vez, as vozes dissonantes das diversas instituições sociais conseguem fazer um barulho, ainda baixo, pra mostrar que não vamos esperar que os governantes se cocem ou quando um dia for lucrativo pra qualquer emissora pautar o tema, com devida construção de imaginários coletivos mais sensíveis as nossas causas.
De acordo com minhas compreensões de como este assunto deve chegar na boca do povo da forma mais positiva possível para nós, penso que as questões comerciais devem, sim, ser levadas em consideração. Estas relações existem, são fortes e rígidas. Como diria Foucault, colocar esta força contra si, talvez seja o mais inteligente e eficaz do que se chocar com ela.
Observando os últimos fatos, arrisco um palpite como esta força midiática vai se dobrar contra si.
Indiscutível, por exemplo, que Bolsonaro irritou a população brasileira quase de forma hegemônica. Todos os veículos de comunicação em matérias e manchetes representaram a sensibilidade popular que este imbecil foi capaz de incitar. A partir desta discussão social, deste levante coletivo que entra outro componente que arremata a discussão no âmbito almejado por nós, a representação figurativa desta realidade, onde aquela domestica lá do Leblon, da casa da madame passa a entender o que está acontecendo. Ou seja, para o grande público só a representação desta realidade será capaz de criar imaginários coletivos a favor das causas LGBTs.
E é neste ensaio lógico que entra a Novela, pautando, as discussões em âmbito nacional de amplo alcance. Vocë que está de frente pra este blog não é parâmetro, meu caro. Quando este assunto ganhar os bares, botequins, bodegas, elevadores, fofocas aí será o momento do gap de qualquer emissora levantar a bola. Claro que pode ser o contrario, mas quando se fala neste nível de risco, e me refiro a rejeição pública para o horário mais caro da TV brasileira, quem no lugar do executivo que decide o caso não teria cautela?
Em suma, Bolsonaro mexeu na consciência brasileira que fez eco nos veículos formadores de opinião, que por sua vez ganha o grande público com a Novela e como afirma Barbero, num viés sensível capaz de formar memórias e elos sociais.
Clique aqui e confira como Insensato Coração se manifestou.
Acredito que seja por aí que a banda vai tocar. Esta reflexão também se aplica a lógica do Diversidade Católica. Afinal, estamos aqui fazendo eco nas assembléias de nossas paróquias, sendo voz num ano importantíssimo e contribuindo da nossa maneira. Aguardem...rs!
Mais uma vez, obrigado Bolsonaro, graças a sua colaboração você acelerou e/ou permitiu que o grande público pudesse ter pautado em suas discussões tudo o que você falou. Tweet
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2 comentários:
Muito obrigado pelos links e dicas.
Será muito útil para futuras postagens :D
Vou colocar o link do diversidade católica nos blogs indicados.
Estamos na luta!
Obrigado a você! Vamos juntos na construção de um mundo melhor! :-) Abs!
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