Foto: Thomas Hawk
Traição e brutalidade na Líbia. Um massacre de pessoas inocentes orando no Iêmen. Uma sequência, como em Jó, de catástrofes naturais e perdas imensas no Japão. É difícil, às vezes, acreditar na bondade intrínseca da natureza humana ou na benevolência da natureza. No entanto, o que conta é a resposta ao sofrimento e à violência. E a maneira como as pessoas tomam medidas nestes momentos ilumina a verdade que sempre é mais profunda do que as aparências e primeiras reações.
Uma das qualidades que demonstram que o ser humano é capaz de se elevar acima de desastres e desilusões é a capacidade de auto-controle e auto-sacrifício. Quando essa capacidade é perdida, a humanidade sofre uma perda de identidade, uma regressão para algo escuro e deprimente que nos aterroriza se não conseguimos integrá-lo e transcendê-lo.
A religião é muitas vezes condenada hoje por sua negatividade e tacanhez de espírito. E, como na arte ou nos negócios, também na religião você pode encontrar boas ou más práticas e resultados. O cristianismo é muitas vezes caricaturado como uma religião de repressão e dedos apontados contra o prazer. No entanto, como esta temporada tenta lembrar-nos, a arte da felicidade depende de nossa capacidade de moderação e compaixão. Não podemos encontrar satisfação em detrimento dos outros, ou apegar-nos à nossa própria segurança deixando de satisfazer suas necessidades. Há um tempo para comemorar e seguir os instintos, mas ele deve ser sempre equilibrado por um tempo de disciplina e paciência.
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Jesus garantiu aos discípulos que o esforço que colocamos na busca espiritual nunca é um desperdício. Pedi e recebereis, procurai e encontrareis, batei e a porta será aberta. Quem está começando um novo empreendimento precisa de estímulo e auto-confiança desse tipo. Caso contrário, o primeiro revés ou desânimo que encontramos faz com que pareça que tudo foi por água abaixo. Mas a confiança que cultivamos deve ser realista. A palavra em sânscrito para meditação não sugere gratificação instantânea, mas cultivo gradual. É evidente que Jesus não é um evangelista de TV que ilude os pobres e vulneráveis afirmando que, se você rezar pedindo aquilo que desejar, isso vai cair em seu colo no dia seguinte.
Nós não oramos para obter benefícios de Deus, disse Orígenes, professor cristão do primeiro século, mas para nos tornarmos semelhantes a Deus. O que é então o tipo de pedido, procure e bata na porta , que constitui a jornada espiritual? Em nosso estilo de vida hi-tech e muito estressante, estimamos enormemente a capacidade de ser multi-tarefa . Pessoas que conseguem conciliar muitas coisas são admiradas por conseguirem viver com o dedo no iPhone e um olho nas notícias, enquanto fazem o almoço. As últimas pesquisas científicas, porém, nos fazem questionar esse valor cultural. Parece que,assim como a aprendizagem na tela do computador não permite conhecimento profundo para utilizar a memória a longo prazo, a forma multi-tarefa reduz a qualidade do trabalho realizado. O multi-tarefa não produz resultados duradouros.
Então, pedi e recebereis — desde que você peça uma coisa necessária, da qual ainda se lembre cinco minutos depois. Procure e você vai encontrar - se não ficar imediatamente distraído por algum outro objeto de atenção. A recompensa da oração que Jesus promete não é a satisfação dos desejos a curto prazo, mas a transformação radical do desejo pela descoberta do que realmente queremos. Virmos a querer o que realmente queremos é a vida moral. Desfrutar isso é a vida contemplativa.
- Laurence Freeman, OSB
Traduzido por Leonardo Winck Corrêa
Publicado originalmente no site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil.
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