Fotografia: Beto Figueirôa
Reproduzimos abaixo o belo comentário do teólogo basco Jose Antonio Pagola sobre o capítulo 6 do Evangelho de S. Mateus. Publicado originalmente no Eclesalia, via Amai-vos. Os grifos são nossos.
Sobretudo, procurai o reino de Deus e a Sua justiça; o resto ser-vos-á dado por acrescento. As palavras de Jesus não podem ser mais claras. O primeiro que têm de procurar os Seus seguidores é "o reino de Deus e a Sua justiça"; o resto vem depois. Vivemos, os cristãos de hoje, inclinados para construir um mundo mais humano, tal como o quer Deus, ou estamos a gastar as nossas energias em coisas secundárias e acidentais?
Não é uma pergunta mais. É decisivo saber se estamos a ser fiéis ao objectivo prioritário marcado por Jesus, ou estamos a desenvolver uma religiosidade que nos está a desviar da paixão que Ele levava no Seu coração. Não temos de corrigir a direção e centrar o nosso cristianismo com mais fidelidade no projeto do reino de Deus?
A atitude de Jesus é diáfana. Basta ler os evangelhos. Ao mesmo tempo que vive no meio das pessoas trabalhando por uma Galileia mais sã, mais justa e fraterna, mais atenta aos últimos e mais acolhedora aos excluídos, não hesita em criticar uma religião que observa o sábado e cuida do culto enquanto esquece que Deus quer misericórdia em vez de sacrifícios.
O cristianismo não é uma religião mais, que oferece uns serviços para responder à necessidade de Deus que tem o ser humano. É uma religião profética nascida de Jesus para humanizar a vida segundo o projecto de Deus. Podemos "funcionar" como comunidades religiosas reunidas em torno do culto, mas se não contagiarmos compaixão nem exigirmos justiça, se não defendermos os esquecidos nem atendermos os últimos, onde fica o projecto que animou a vida inteira de Jesus?
Talvez, a forma mais prática de reorientar as nossas comunidades para o reino de Deus e a sua justiça seja começar por cuidar mais o acolhimento. Não se trata de descuidar a celebração do culto, mas de desenvolver muito mais o acolhimento, a escuta e o acompanhamento das pessoas nos seus problemas, trabalhos e esperanças. Partilhar o sofrimento das pessoas pode-nos ajudar a compreender melhor o nosso objectivo: contribuir a partir do Evangelho para um mundo mais humano.
Na sua primeira encíclica, João Paulo II, recolhendo uma ideia importante do Concilio Vaticano II, recordou-nos, aos cristãos, como devemos entender a Igreja. Fez de de uma forma clara. "A Igreja não é ela mesma o seu próprio fim, pois está orientada para o reino de Deus do qual é germe, sinal e instrumento". O primeiro não é a Igreja, mas o reino de Deus. Se queremos uma Igreja mais evangélica é porque procuramos contribuir a partir dela a procurar um mundo mais humano. Tweet
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