sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Quem tem medo dos gays?


Prezadas famílias de comercial de margarina, células fundamentais da nossa sociedade, núcleos familiares formados por um pai provedor-bonachão-de-bigodes, mãe-de-avental-fazendo-bolinhos-de-chuva-no-Domingo-de-tarde e crianças-loiras-e-sapecas-comendo-seus-sucrilhos-no-café-da-manhã: Nós os gays, também chamados de bichas, viados, boyolas existimos!

Talvez vocês não tenham reparado, mas aquele tio solteirão, o primo que raramente comparece às festas de família e sempre que vai, leva um amigo, sãos gays. Desculpem-me avisá-los assim, mas há entre nós senhores de respeitável aparência e família solidamente formada e mulheres eternamente insatisfeitas com os maridos que, uma única vez, numa Quinta à noite tocaram suas amigas por sobre a blusa. Isto e pegações em lugares escuros, encontros fortuitos e uma psique destroçada era todo o possível para nós, as bichas, até algumas décadas atrás.

Felizmente hoje, nós temos maior visibilidade e aceitação social. A sensação que se tem de que a “ameaça gay” está se alastrando é só isso: uma impressão. O que acontece é que homens e mulheres gays deixaram de constituir famílias heterossexuais que seriam infelizes e não precisam se esconder tanto, ainda que não seja fácil assumir-se em muitas instâncias sociais. Mas fiquem tranqüilos: estatisticamente não estamos nos multiplicando.

O pânico que despertamos nos setores conservadores da sociedade supõe que a humanidade inteira é composta por bissexuais e que se estes descobrirem o terrível e fascinante segredo de que o sexo entre os que tem o mesmo sexo é muito mais prazeroso, a espécie humana estará terminada. Apesar de concordar com vocês que o sexo com outro homem é bem mais interessante do que com mulheres, minhas amigas lésbicas aqui discordarão, devo lhes dizer que há homens que gostam de mulher de verdade. É sério! Gostam de beijar-lhes, ternamente, o seio, passar a língua no bico intumescido e descobrir-lhes o quente e úmido do entre as pernas enquanto aspiram ao perfume que, em ondas, emana de seus cabelos É estranho, mas é verdade, existem homens que gostam de mulheres e vice-versa. Ou seja, o pânico de que, se reconhecerem nosso modo de amar como legítimo, a humanidade findará é só uma imensa bobagem.

Outra novidade: crianças criadas por casais gays não se tornam necessariamente homossexuais. A imensa maioria dos gays que conheço e eu próprio fomos criados em lares heterossexuais, numa escola heteronormativa, numa sociedade heterosexista e somos viados. Ou seja, há algo muito forte e real na forma como cada ser humano ama e deseja, capaz de contradizer as instâncias mais fundamentais da vida social. Seu filho, sua linda filha de maria-chiquinha e vestido florido não vão “virar” gay por ver um casal de homens com seu filho na capa de uma revista, nem duas mulheres se acarinhando românticas à luz do dia, pelo contrário, talvez isto os ajude a se tornar seres humanos melhores: mais plurais, humanamente fraternos e capazes de reconhecer o brilho da vida em toda a parte em que ele refulge.

Pra dizer a verdade, os gays não são uma ameaça à família ou a humanidade em geral. O que corrói estas sagradas instâncias é a falta de amor, de interesse no outro, de diálogo e partilha e estes males não tem gênero, nem orientação sexual definida. Lamento informá-los, mas nós não somos os monstros que se pensa, procure-os dentro de vocês. Eu sei dos meus e mantenho-os vigiados, sem deixar que se projetem no outro só porque esse é diferente de mim.

7 comentários:

Thiago disse...

É isso.

Só queremos amar.
Só queremor amor.

Marcelo Augusto disse...

Uau! Que desabafo! Totalmente compreensível - e mais, necessário! Porque, às vezes, cansa lutar contra a cegueira (ou seria preguiça?) intelectual! É uma pena que ainda exista um grupo de Dons Quixotes, lutando contra essa tal "ameaça gay". O que fazer? Perseverar - com bom humor, sempre!

julio cezar disse...

Precisamos de vozes assim...
Interessante o texto... queria saber que é o autor!

Giuliano Nascimento disse...

Perfeito, texto inteligentíssimo.
Prazer ler tão bem escrito e com conteúdo tão relevante.

Equipe Diversidade Católica disse...

Amigos, ficamos imensamente felizes com a repercussão deste post. Muito obrigado por todos os comentários - e aguardem, pois temos novos posts do Inquieto a caminho...! ;-))))

Amanda disse...

Fico muito feliz em saber que existe esse movimento dentro da igreja católica. O trabalho de vocês é muito importante e tenho certeza que foi Deus que os colocou nessa missão, para tirar do sofrimento tantos catolicos e catolicas, que, muitas vezes, ao descobrirem que não têm "vocação" para o casamento, acham que é por que sua vocação é o celibato. Passar uma vida inteira mutilando sua sexualidade e, pior, sua afetividade de modo geral por conta do conservadorismo e SIM, MACHISMO da Igreja. Mas, mais do "pregar" pra quem é de fora, importante é conscientizar quem está já nos cargos da Igreja, trancados em seminários e conventos. Ninguém merece isso. Todos têm direito de viver o amor.

Equipe Diversidade Católica disse...

Oi, Amanda,

Concordamos com vc: todos têm o direito de viver o amor. Muitas vezes a religião, em vez de ser ferramenta de difusão do amor, da aceitação, do acolhimento e da inclusão, acaba funcionando como o oposto: como meio de julgamento, crítica e exclusão. Em vez de ajudar as pessoas a cada vez mais se encontrarem e serem quem são, a realizar os planos do Criador para cada um, acaba sendo instrumento de poder, de opressão, de cisão do indivíduo e de divisão da sociedade. Isso vale tanto para quem usa a religião como desculpa para condenar os outros, quanto para quem, como você apontou, a usa para condenar a si mesmo.

A mudança do atual quadro de uso da religião para justificar a homofobia, a nosso ver, certamente passa por uma conscientização e uma ressignificação da religião e da ética à luz do espírito de Amor e Liberdade do Evangelho do Cristo; "amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo..." significa deixar-se iluminar pelo amor incondicional e irrestrito de Deus, e à sua luz amar tanto a si mesmo quanto ao próximo, com todas as nossas humanas falhas e limitações, incondicional e irrestritamente.

Um beijo carinhoso, e obrigado pelo seu comentário e presença aqui.

:-)

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