domingo, 23 de janeiro de 2011

Deus é vazio


Foto: Tom Storm

Isso a que nos referimos pelo nome de Deus é assim mesmo: um grande, enorme Vazio que contém toda a beleza do universo. Se o vaso não fosse vazio, nele não se plantariam as flores. Se o copo não fosse vazio, com ele não se beberia a água. Se a boca não fosse vazia, com ela não se comeria o fruto. Se o útero não fosse vazio, nele não cresceria a vida. Se o céu não fosse vazio, nele não voariam os pássaros, nem as nuvens, nem as pipas...

(...) Deus tem de existir. Tem beleza demais no universo, e beleza não pode ser perdida.

- Rubem Alves, "O Deus que conheço"

Simone Weil talvez dissesse (adaptando suas palavras à linguagem de R. Alves), que Deus é o verdadeiramente "Cheio/completo" que se reduz, se faz Vazio. Um desfazer-se, desapoderar-se, reduzir-se, para encontrar e encher o que está vazio.

Padre Antônio Vieira escreveu um belíssimo sermão, Sermão de Nossa Senhora do Ó, em que, num português antigo e um pouco estranho, escreve sobre como Deus, o Infinito que tudo abraça, adentrou no limitado e finito círculo da criação:

"O primeiro círculo, que é o mundo, contém dentro em si todas as coisas criadas; o segundo, incriado e infinito, que é Deus, contém dentro em si o mundo; e este terceiro, que hoje nos revela a fé,* contém dentro em si ao mesmo Deus."

Que lindo e louco Deus, esse que por amor se esvazia de Si mesmo. :-)

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*O terceiro círculo é o ventre de Maria.

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