terça-feira, 6 de novembro de 2012

Atos sexuais homossexuais são "naturais"


A orientação sexual é predominantemente heterossexual, homossexual, ou bissexual. Essa realidade "natural" e histórica, social e experiencialmente revelada pode estar obscurecida pela preponderância estatística.
A "natureza" e a lei natural sempre ocuparam um lugar proeminente na teologia moral católica e, no ensinamento religioso oficial, não só a homossexualidade, mas também as atividades sexuais do tipo pré-conjugal, extraconjugal, contraceptiva e não reprodutiva são condenadas como contrárias à lei natural.
Homens e mulheres históricos e racionais não têm acesso a uma "natureza" pura e não adornada. A "natureza" revela à nossa atenção, compreensão, julgamento e decisão somente a sua facticidade nua. Tudo além dessa facticidade é o resultado de uma interpretação por pessoas atentas, inteligentes, racionais e responsáveis; ou seja, nós experienciamos a "natureza" somente como interpretada e socialmente construída. A experiência não interpretada da "natureza", como de fato de cada outra realidade, fica restrita à sua mera facticidade e é desprovida de significado, uma qualidade que não é inerente à natureza, mas atribuída a ela por seres racionais em atos interpretativos. É inevitável que grupos diferentes de mulheres e homens igualmente racionais e historicamente fundados - como teólogos tradicionalistas e revisionistas, por exemplo - possam formular diferentes interpretações da "natureza" e das obrigações morais dela derivadas, e que qualquer interpretação dada possa estar equivocada. Em virtude de toda interpretação da "natureza" constituir uma realidade socialmente construída e dependente de interpretações humanas mediadas por perspectivas, a realidade da "natureza" deve sempre estar sujeita a escrutínio, ainda que a interpretação seja proposta pelo Magistério da Igreja.
A nossa antropologia sexual reconhece a orientação sexual como uma dimensão intrínseca da "natureza" humana. Como tal, o que é "natural" na atividade sexual, que constitui uma expressão da pessoa sexual, variará conforme a orientação sexual da pessoa, que tanto pode ser homossexual ou heterossexual. Atos sexuais homossexuais são "naturais" para pessoas com uma orientação homossexual exatamente como atos sexuais heterossexuais são "naturais" para pessoas com uma orientação heterossexual. São naturais porque coincidem com, e refletem, a "natureza" humana fundamental de uma pessoa criada à imagem e semelhança de Deus.

SALZMAN, Todd A. e LAWLER, Michael G. A pessoa sexual. Por uma antropologia católica renovada. São Leopoldo, RS: Ed. UNISINOS, 2012. p. 311-313.
Imagem: Catedral de Chartres.

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