Foto: Eric Cahan
No Sermão da Montanha, Jesus identificou as preocupações materiais como sendo nossa principal fonte de ansiedade. Como podemos nos sentir mais confortáveis e reduzir o sofrimento pessoal? Esta é a maior preocupação que obscurece o momento presente e nos desconecta das verdadeiras prioridades.
"Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais que o alimento e o corpo mais do que a roupa?" Mt 6:25.
Quando ele nos diz para não nos preocuparmos, Jesus não está negando a realidade dos problemas do dia-a-dia. Está nos dizendo para abandonarmos a ansiedade, e não a realidade. Aprender a não se preocupar é uma tarefa difícil....[No entanto], a despeito de sua síndrome de atenção deficiente, até a mente moderna também tem sua capacidade natural de se aquietar e de transcender suas fixações. Nas profundezas, ela descobre sua própria clareza onde está em paz, livre da ansiedade. A maioria de nós tem cerca de meia dúzia de ansiedades favoritas, tais como doces amargos que mastigamos sem parar. Ficaríamos assustados se nos privassem delas. Jesus nos desafia a superar o medo de abrir mão da ansiedade, o medo que temos da própria paz. A prática da meditação é uma forma de aplicar seu ensinamento à prece; através da experiência, ela prova que a mente humana pode realmente optar por não se preocupar.
Isto não significa que possamos facilmente esvaziar a mente e afastar todos os pensamentos, à nossa vontade. Na meditação, permanecemos distraídos e, contudo, livres da distração, porque - por menos que seja, a princípio - estamos livres para optar por onde colocar nossa atenção. Gradualmente, a disciplina da prática diária fortalece essa liberdade. Seria pueril imaginar que conseguiremos realizar isso plenamente, em curto prazo. Permanecemos distraídos por muito tempo. Logo nos acostumamos com as distrações, como companheiras de viagem no caminho da meditação. Mas, elas não precisam ser dominantes. Optar por repetir o mantra com fé, e voltar a ele, sempre que as distrações intervém, é o exercício da nossa liberdade de prestar atenção.
Não se trata de algo como uma opção por uma determinada marca da prateleira do supermercado. É a opção pelo compromisso. O caminho do mantra é um ato de fé, e não uma jogada de poder do ego. Em cada ato de fé existe uma declaração de amor. A fé prepara o terreno para que a semente do mantra germine no amor. Não criamos um milagre da vida e do crescimento sozinhos, mas, somos responsáveis por seu desabrochar. Chegar à paz da mente e do coração - ao silêncio, à tranqüilidade e à simplicidade - não exige a vontade de um campeão, mas a atenção incondicional, a fidelidade continuada de um discípulo.
- Laurence Freeman OSB
In "Jesus, o Mestre Interior" (São Paulo, Martins Fontes,2004), pp. 277-278
Reproduzido via site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil Tweet
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