Foto: Hengki Koentjoro
Eu, pecador e presbítero, peço perdão aos meus irmãos e irmãs homossexuais, em meu nome, em nome de outros, muitos, presbíteros e em nome da Igreja Católica, da qual faço parte desde o meu baptismo. Peço perdão porque não soube apreciar o dom do corpo e da sexualidade; porque coloquei reservas ao prazer e o considerei algo baixo, sujo e desprezível; porque preferi seguir Agostinho de Hipona em vez de fixar os meus olhos em Jesus de Nazaré.
Peço perdão porque me juntei aos que discriminam as pessoas homossexuais, escutei em silêncio e até contei algumas piadas que os degradam. Tolerei que se fale deles com desprezo e sejam catalogados com epítetos humilhantes. Senti medo de ser visto em público acompanhado de alguma pessoa abertamente homossexual.
Peço perdão porque não abri espaços para as pessoas homossexuais, no seio das paróquias onde servi; porque me calei perante seminaristas homossexuais que foram expulsos do seminário somente por essa razão; porque guardei para mim as minhas opiniões sobre encerramento da Igreja no que respeita aos homossexuais, em vez de abrir um debate público que tanta falta faz na comunidade cristã.
Peço perdão porque não soube valorar e apreciar a entrega de tantos catequistas, ministros e servidores homossexuais que há nas nossas igrejas, porque baixei a voz até que esta se transformasse em sussurro de capelinha nas reuniões de presbíteros, quando deveria elevá-la para falar sobre os homossexuais.
Peço perdão porque no sacramento da confissão, não soube dizer uma palavra de alento para os corações dos meus irmãos e irmãs homossexuais, brandi antes sobre eles o chicote do castigo, em vez de lhes abrir os braços e animá-los a serem fiéis a Deus, na orientação sexual que receberam; porque me neguei a benzer as casas daqueles que se haviam atrevido a desafiar a sociedade vivendo juntos e juntas; porque não quis benzer umas alianças que iam simbolizar a sua união fiel e permanente.
Peço perdão porque olhei com desconfiança as pessoas homossexuais e acreditei que a única motivação das suas acções era a busca do sexo; porque permiti que, com ligeireza, se fizesse a identificação entre perversão e homossexualidade, pederastia e homossexualidade, libertinagem e homossexualidade, SIDA e homossexualidade.
Peço perdão porque a afligi muitos pais de família com filhos e filhas homossexuais, em vez de os ajudar a descobrir que essa era uma riqueza que Deus concedia a esse lar para lhes permitir ser casa de amor, de tolerância e de respeito pelas diversidades. Peço perdão porque lhes recomendei que levassem os filhos a terapias psicológicas para que se fizessem «homens» e «mulheres» de verdade.
Peço perdão porque me apoiei na posição discriminatória que a Igreja mantém como posição oficial, em vez de contribuir para o seu desmantelamento, somente para não arriscar o meu prestígio e a minha fama.
Hoje peço perdão a Deus por não ter aprendido a velha lição de amor sem excepções e sem condicionamentos. E peço perdão aos meus irmãos e irmãs homossexuais, porque poderia ter feito muito mais para pugnar pela sua plena participação na vida da Igreja, podia ter derrubado mais barreiras, podia ter sido mais audaz.
Eu, pecador e sacerdote, peço perdão.
Pe. Raúl Lugo Rodríguez
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Depoimento publicado originalmente no site Rumos Novos Tweet
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