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Faz-se malabarismo com o texto bíblico. Usam-se versículos para tudo. Capítulos servem, ao mesmo tempo, para abençoar a guerra e semear a paz. Nada como um texto canônico para validar mecanismos opressores que perpetuam a pobreza. Como a sagrada Escritura já serviu para acalmar a revolta dos excluídos!
Um dos textos mais usados, celebrados e repetidos da Bíblia é o capitulo 13 da primeira epístola aos Corintios. Talvez tão celebrado por tratar do amor. Declamado em casamentos. Musicado por diferentes artistas. Seus 13 versículos valem até como cartilha de auto ajuda: “Como aprender a amar bem”.
Geralmente, os três primeiros versículos servem para explicar que amor é mais nobre que dogma, carisma e desempenho religioso:
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me valerá”.
A partir do versículo 4, Paulo descreve alguns atributos do amor. Sua descrição é nobre:
“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.
Belíssimo! repetem até os não religiosos. Acontece que a lista não é receita. Deus é descrito como essencialmente amor. Sendo assim falar de amor é também falar de Deus.
É possível projetar o pensamento de Paulo sobre o amor na percepção de quem Deus é. Se Deus é amor e o amor tudo sofre – Deus sofre. Se Deus é amor e o amor tudo crê – a existência humana é fruto de um acreditar divino. Se Deus é amor e o amor tudo espera – Deus então espera, aguarda, pacientemente por respostas humanas. Se Deus é amor e o amor tudo suporta – o sofrimento que se universalizou produz uma dor incalculável no coração de Deus.
Infelizmente a cristandade ocidental preferiu compreender Deus a partir da onipotência. Caso tivesse prestado mais atenção ao que a revelação do amor indica, com certeza haveria menos ateus no mundo.
Nunca é preciso hesitar: o amor é simultaneamente frágil e avassalador. Jesus chorou sobre a impenitente Jerusalém.Lamentou a partida de um jovem rico. E contou uma parábola usando a figura de um pai abandonado pelo filho para revelar os sentimentos divinos. O amor que vulnerabiliza também salva.
O que é atrativo em Cristo? Que não sejam as descrições de sua majestade, mas de sua humildade. Sua glória foi revelada na cruz em não em tronos; no perdão e não em vingança. O texto diz peremptoriamente que o Pai lhe deu um nome que está acima de todos os nomes porque jamais cobiçou poder, mas viveu para servir. Depois de ressuscitado Jesus não procurou esmagar seus algozes. Para sempre se manteve como cordeiro.
O Deus encarnado expressou, com mansidão e humildade, que não há outra maneira de perceber Deus senão na ternura e na mansidão.
Qualquer deus que tente se impor através do poder ou com apelos mágicos não passa de um ídolo.
“Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor. Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele… No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo“. [1João 16-18]
Soli Deo Gloria
- Ricardo Gondim, em seu blog
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